Na passada quarta-feira, dia 22 de Janeiro, a Teia D’Impulsos – Associação Social, Cultural e Desportiva (TDI), em parceria com a Câmara Municipal de Portimão e a Rádio Costa D’Oiro, promoveu o terceiro episódio da terceira série do ciclo de debates Teia D’Ideias, que teve como mote um tema que não podia estar mais na ordem do dia, “O Estado da Saúde no Barlavento Algarvio”.
O Pequeno Auditório do TEMPO – Teatro Municipal de Portimão encheu para um debate esclarecedor, profícuo e não menos polémico sobre o panorama actual dos serviços de saúde no Algarve e, mais especificamente, no Barlavento. Para tal, este Teia D´Ideias contou com um painel de convidados constituído por Ulisses Brito (presidente do Conselho Distrital do Distrito Médico do Algarve da Ordem dos Médicos), Luís Batalau (médico e ex-presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar do Barlavento Algarvio), José Amarelinho (presidente da Câmara Municipal de Aljezur), Joaquina Matos (presidente da Câmara Municipal de Lagos) e Vítor Dias, enquanto representante da Teia D’Impulsos. A moderação do debate esteve a cargo de Nuno Silva. Ao contrário do previsto, Pedro Nunes (presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar do Algarve) e João Moura Reis (presidente do Conselho Directivo da Administração Regional de Saúde do Algarve) não compareceram ao debate por motivos de ordem pessoal.
O debate iniciou-se com um apelo de Luís Batalau: “Acordai, cidadãos do Barlavento.
Acordai, autarcas”. O diagnóstico traçado está longe de ser positivo. À inquietação dos utentes, que assistem à degradação da qualidade dos cuidados de saúde disponíveis, une-se o descontentamento dos próprios profissionais de saúde, que já tomaram publicamente uma posição através de um abaixo-assinado subscrito já por 205 dos 230 médicos especialistas do Centro Hospitalar do Algarve (CHA), denunciando as más condições dos hospitais de Portimão e Faro e questionando a gestão da administração do CHA. A fusão das duas unidades hospitalares do Algarve tem revelado fragilidades na forma como foi implementada, repercutindo-se na qualidade dos serviços prestados. Uma situação agravada pelos cortes orçamentais, cujas consequências não se fazem sentir apenas no Algarve, mas sim em todo o território nacional, algo plenamente divulgado pelos media, gerando desconforto e insegurança entre a população.
Mas estará o Algarve a ser particularmente penalizado? Segundo os autarcas Joaquina Matos e José Amarelinho, sim. Aliás, a Saúde tem marcado a ordem de trabalhos nas reuniões da Associação de Municípios do Algarve (AMAL), com especial enfoque na falta de financiamento e na questão da Lei dos Compromissos. José Amarelinho sublinhou a forma como os municípios têm tentado suprimir algumas necessidades que, em princípio, deveriam ser responsabilidade do Estado, como é o caso do pagamento de médicos para a prestação de serviços ao nível local. Afinal, o direito dos cidadãos á saúde deve ser prioritário e esta é uma área onde não é possível fazer mais com menos.
Esta e outras ideias emanadas deste debate serão transmitidas ao poder central numa reunião que os autarcas irão ter com o Ministro da Saúde, um compromisso assumido por Joaquina Matos e José Amarelinho.
Ulisses Brito sublinhou as razões do descontentamento dos profissionais de saúde: a perda de direitos conquistados, a falta de condições e recursos materiais para o desempenho das suas funções, o mau ambiente no espaço de trabalho, o deficiente diálogo com as administrações hospitalares. A consequência é a progressiva perda de qualidade do Serviço Nacional de Saúde, como atestam as estatísticas. O Algarve debate-se ainda com a necessidade de criar condições para atrair mais e melhores quadros técnicos. Ulisses Brito salientou ainda como, na reforma operada, houve uma falha de comunicação e não foram devidamente ouvidas todas as partes envolvidas, nomeadamente os profissionais, os utentes e as autarquias – a fusão não é negativa, mas houve uma má implementação da estratégia.
Por sua vez, Luís Batalau deixou vincada a sua posição contrária à criação do CHA. O Hospital do Barlavento Algarvio terá saído particularmente prejudicado neste processo de fusão. Aos cortes no financiamento, que se reflectiram na perda de qualidade dos serviços prestados, não correspondeu uma evidente poupança – terão aumentado outros custos, como os encargos com os trasportes. Luís Batalau afirmou, assim, a necessidade de abolir a fusão e encontrar outras soluções, como a criação da Unidade Local de Saúde do Barlavento.
A discussão alargou-se ao público presente, que respondeu positivamente ao repto lançado e encheu a sala. Foram lançadas questões determinantes e que reflectem as inquietações de utentes e profissionais da saúde. Primeiro, alertou-se para a falta de resposta dos cuidados primários, cujas consequências se reflectem na obstrução dos serviços de urgência hospitalar. Outra questão levantada prendeu-se com o progressivo fecho de especialidades no hospital de Portimão – Cardiologia, Otorrinolaringologia, Oftalmologia, o encerramento anunciado no Bloco de Partos – e como esta estratégia pode estar a colocar em xeque a qualidade dos cuidados de saúde prestados aos utentes do Barlavento algarvio. A necessidade do aumento do número de quadros técnicos, em particular de enfermeiros e médicos, revela-se urgente, segundo foi testemunhado pelo público. Contudo, para tal, é necessário criar condições que encorajem o estabelecimento de profissionais no Algarve, algo bem além das meras condições financeiras.
Diálogo foi um conceito permanentemente repetido ao longo do debate como uma parte importante para a solução dos problemas. Este Teia D’Ideias, ao lançar para discussão um tema polémico que interessa a todos, pretendeu dar um contributo para a construção desse diálogo.
A Teia D’Impulsos agradece o apoio da Pastelaria Milénio e da Delta Cafés na realização do coffee-break. Para o próximo dia 19 de Fevereiro, está agendado o quarto episódio desta série de Teia D’Ideias, subordinado ao tema “Gerações Mais Qualificadas, Gerações Mais Desempregadas”.
Por: A Direção da Teia D’Impulsos




