Portugal vai comercializar caviar já em 2015. O projecto, incubado no Campus das Gambelas, da Universidade do Algarve, prevê a produção das famosas ovas de esturjão beluga e sevruga – as mais caras do mundo, que valem entre seis mil e 12 mil euros o quilo -, entre outras espécies deste peixe, em sistema de aquacultura a instalar no Alentejo.
O esturjão gosta de águas frias, mas nem sempre é assim: “Na maior parte do ano, o nosso país tem uma temperatura óptima para o seu crescimento”, explica Paulo Pedro, um dos dois responsáveis pelo projecto da Caviar Portugal, a ser desenvolvido em parceria com a Universidade do Algarve. “É durante a desova que as fêmeas maduras (começam a produzir a partir dos 10 anos, em espécies grandes) precisam de um período de invernia ou hibernação”, acrescenta o biólogo marinho.
As primeiras experiências de aquacultura no Algarve já estão a decorrer e, em breve, a empresa aberta por Paulo e por Valery Afilov – ucraniano a viver em Portugal há 14 anos e que já desenvolveu projectos semelhantes no seu país – deverá abrir um grande centro de cerca de cinco mil metros quadrados para a produção da iguaria de luxo no norte do Alentejo, zona que tem a vantagem da proximidade de Lisboa.
Serão dezenas de grandes tanques, de cerca de 12 metros de diâmetro, a albergar os peixes, avança ainda Paulo Pedro, explicando que são estas estruturas que absorvem grande parte do capital investido.
“Andámos numa verdadeira travessia no deserto, antes de encontrar um investidor nacional”, conta o biólogo.
Em 2011, quando o projecto de produção de caviar venceu um concurso de novas ideias de negócios promovido pela Universidade do Algarve, o país estava no auge da crise financeira e havia pouco capital disponível, lembra ainda um dos dois mentores.
Ter o esturjão de volta aos rios
Em 2015, ano em que começarão a ser comercializados o caviar e também o próprio esturjão – que, no caso do beluga, pesa cerca de uma tonelada e meia, podendo viver em média cerca de 100 anos -, os dois empresários esperam começar por vender cerca de 200 quilos da iguaria. O objectivo é, quando atingirem os cinco mil peixes em aquacultura, chegar às quatro toneladas: “Dentro de cinco anos, atingiremos essa quantidade, se tudo correr como o esperado”.
Estados Unidos da América, norte da Europa e África serão os principais mercados de destino, mas o mercado nacional não será descurado. “Temos já alguns acordos estabelecidos nesses países e em Portugal também já fizemos contactos, sobretudo, no turismo e restauração”, refere Paulo Pedro. Outro objectivo é entrar no enorme e difícil mercado russo.
Este projecto da Caviar Portugal alberga ainda outro sonho: o de fazer regressar a águas nacionais uma espécie de esturjão há muito desaparecida: o acipenser sturio ou solho. “Terá de passar sempre por uma decisão política, porque é necessário reabilitar os seus habitats naturais (sendo uma espécie de água salgada, o esturjão desova em rios)”, explica Paulo Pedro, acrescentando que já foram estabelecidos contactos com o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, que mostrou interesse no projecto.
O acipenser sturio nadou em águas nacionais sobretudo no tempo da monarquia e existem vários registos da captura do valioso peixe no rio Tejo, com o selo real. Mas nos anos 80 ainda foi capturado um exemplar no rio Guadiana.
Fonte: Sónia Balasteiro / Sol
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