Com um discurso que entusiasmou a plateia, José Barata-Moura trouxe à iniciativa “Horizontes do Futuro – Ciclo Antes e Depois para Amanhã” o tema “Como romper? As endrominações da ideologia dominante”, numa sessão que encheu o Salão Nobre dos Paços do Concelho, na passada quinta-feira.
- Carlos Albino; Vítor Aleixo; José Barata-Moura; Adriano Pimpãp
Nesta dissertação sobre como romper o viciado círculo envolvente da ideologia dominante, este académico começou por referir que abordar este tema “é obra, porque é um programa de obras em cujo estaleiro nós nos encontramos, no meio de valas, ferrarias e andaimes, e sem ter na cabeça um caderno de encargos para nos conduzir”.
Numa linguagem quase sempre metafórica, o antigo Reitor da Universidade de Lisboa disse tratar-se de uma questão “aguda porque o problema é rotundo, paira ao redor pela envolvência que respiramos, atafulha-nos o espírito e não para de se nos intrometer na respiração”.
José Barata-Moura fez uma retrospetiva da palavra “ideologia”, a sua etimologia e grafia, o seu significado ao longo das várias fases da história da Humanidade, a dicotomização ciência/ideologia, tendo por fim uma reflexão sobre o período histórico que vivemos; da “Teoria dos Ídolos” de Francis Bacon, passando pelo Iluminismo, por Marx e Engels, pelo pensamento filosófico da segunda metade do século XX, até chegar aos dias de hoje.
Segundo este conferencista, “a ideologia dominante comporta uma unidade que forma fissuras e fraturas as quais, por sua vez, refletem as própria contradições internas aos estratos que dominam e que, no seu punhado de tensões, acabam por configurar a desordenável ordem da dominação vigente”. Nos dias de hoje, na orla em que divergem e no fundo em que convergem, falou a título de exemplo “dos interesses económicos do industrialista e do financeiro, as inclinações políticas dos institucionais e dos liberalistas, os sentimentos sociais dos modernizadores e dos retrógrados e, na esfera da moralidade, a perspetiva cultural dos laicos e dos religiosos”.
Quanto à forma como romper com este poder dominante, o conferencista disse ser necessário ir mais longe. “A crítica teórica da ideologia pode romper as armaduras das ideias e até mudá-las mas, para abanar a dominância e dessa dominância sair, ela não é suficiente de todo. As ideias podem bastante na ordem da informação e da conformação das consciências e das atitudes mas para transformar materialmente realidades, o poder das ideias, mesmo se corretas e realizáveis, não basta. Faz falta o poder prático de outras lutas socialmente assumidas”, afirmou ainda durante a sua intervenção.
Num momento de debate, quando questionado pelo público presente sobre a forma como vê a criação do Manifesto dos 74, Barata-Moura realçou a importância cívica deste movimento de cidadãos, um conjunto de personalidades e correntes de opinião que vão desde a democracia cristã até vários setores da esquerda. “No fundo é, de alguma maneira, o romper com o peso de uma ideologia dominante”, frisou.
O antigo Reitor trouxe a esta iniciativa algumas das suas ideias sobre os problemas financeiros que desembocaram na crise de 2008, o estado do ensino em Portugal e os facilitismos que foram dados ao ensino público enquanto que houve um desinvestimento no setor público, a concorrência, desenvolvimento tecnológico e emprego, e ainda, o levantamento popular do 25 de Abril apoiado pelo movimento popular e as ilações a retirar do 25 de novembro.
Quanto à “ideologia dominante” em Portugal disse estar em decadência. “Não é apenas uma doutrina, acomoda lá dentro as adversidades e adaptações. A ideologia dominante não quer que as pessoas pensem todas da mesma maneira. Mas quer ter um controlo do intervalo social consentido”, sublinhou.
Quando questionado sobre o momento político português foi perentório ao afirmar: “Neste momento é fundamental correr com este governo. O que significa que tem que haver uma conjugação de forças muito diversas – políticas, económicas e sociais -, incluindo por parte dos partidos que o apoiam”.
Recorde-se que esta foi mais uma iniciativa integrada no programa comemorativo concelhio do 40º aniversário do 24 de Abril.
Por: Município de Loulé
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