No arranque das Comemorações dos 40 anos do 25 de abril, em Albufeira, a Autarquia desafiou o fotógrafo Alfredo Cunha e o jornalista Adelino Gomes, a apresentarem uma mega-aula para mais de 250 alunos do ensino secundário. O resultado foi uma viagem no tempo, apoiada no testemunho, nas imagens e nos registos dos autores do livro “Os Rapazes dos tanques”, que testemunharam de perto os acontecimentos que se registaram no Terreiro do Paço e no Carmo.
- Adelino Gomes, Carlos Silva e Sousa e Alfredo Cunha
Mais de 250 alunos do ensino secundário e da escola profissional Agostinho Roseta (polo de Albufeira), acompanhados dos respetivos professores marcaram presença no Auditório Municipal de Albufeira, no dia 31 de março, para participar na iniciativa “Conversas sobre Abril”. O evento marcou o arranque do programa de comemorações sobre os 40 anos do 25 de Abril em Albufeira.
A convite da Autarquia, Alfredo Cunha e Adelino Gomes proporcionaram uma verdadeira viagem no tempo, até àquela manhã de abril. A aula contou com três momentos distintos: A visualização e comentários de Alfredo Cunha, às imagens tiradas por si, antes e depois do 25 de Abril, sobre a realidade social, política e educacional portuguesa; a intervenção de Adelino Gomes sobre o golpe de estado que se transforma em Revolução, a partir da viagem da Coluna de Salgueiro Maia do Terreiro do Paço para o Carmo e o cerco ao Quartel-General da GNR e, finalmente, a apresentação do livro “Os Rapazes dos Tanques” que segundo os autores “é a própria voz de um conjunto de rapazes, entre os 20 e os 29 anos, que no dia 25 de Abril de 1974, uns em frente aos outros, poderiam ter derramado sangue, mas que no final dali saíram cravos”. A Obra apresenta também “o Portugal visto depois sobre o olhar daqueles que fizeram o 25 de Abril”.
Paulo Dias, Chefe de Gabinete do presidente da Câmara Municipal de Albufeira, fez a apresentação dos convidados e foi o mediador do evento que terminou com a venda do Livro e sessão de autógrafos pelos autores no foyer do Auditório.
Alfredo Cunha, que no 25 de Abril tinha apenas 20 anos de idade e três anos de experiência como fotógrafo no Jornal o Século, após apresentar imagens de Portugal num período de 40 anos, acompanhadas de reflexões pertinentes, concluiu que “a questão que se coloca é saber para onde vamos, para onde vai o País. Há um retrocesso civilizacional, um empobrecimento que agora é mais difícil de enfrentar porque as pessoas já conheceram algum bem-estar (…) não sei o que vai acontecer, mas tem que acontecer qualquer coisa que, espero, seja num quadro democrático”. A finalizar Alfredo Cunha lançou um repto aos jovens ali presentes “O futuro vai ser melhor ou pior quanto mais vocês tentarem lutar pelos vossos direitos” disse, incitando-os a lutar diariamente por uma situação melhor no País.
Adelino Gomes, no dia da Revolução tinha 29 anos e estava proibido pelo regime de trabalhar na Rádio Renascença. Nesse dia estava ali como civil, chegou atrasado e à semelhança de muitos não sabia muito bem o que se estava a passar “se era um golpe dos capitães ou de um conjunto de militares radicais de direita”. Perguntou a um fotógrafo, Carlos Gil, que lhe respondeu que também não sabia e disse-lhe para perguntar “àquele tipo que está a mandar nisto”, que era o capitão Salgueiro Maia, de quem Adelino tinha sido colega no liceu. “O 25 de Abril para mim foi a resposta que o Salgueiro Maia me deu, quando lhe perguntei de que lado estava e ele me respondeu: tiveste um problema na rádio que te obrigou a ir para o estrangeiro, nós estamos a fazer isto para que ninguém tenha que ir para o estrangeiro por causa do que diz ou do que faz”. Foi graças a conhecer Maia que conseguiu um carro para transportar os jornalistas para o Carmo. Acabou por fazer a reportagem ao cerco da GNR “graças à generosidade de dois colegas de profissão”, precisamente da Rádio Renascença.
Durante a sua intervenção, Carlos Silva e Sousa, presidente da Câmara Municipal de Albufeira, referiu sentir-se “muito honrado por receber duas figuras ilustres que fazem parte da nossa História Contemporânea” e por poder proporcionar aos jovens do Concelho a oportunidade de ouvir os testemunhos de quem viveu a data. É importante sabermos dar valor ao que temos, sublinhou “Hoje vivemos em Democracia, mas nem sempre foi assim. Na altura não havia liberdade de pensamento, havia a censura a nível dos livros, dos jornais, da música e valores que hoje são impensáveis e mesmo inconstitucionais; como por exemplo o dever de obediência da mulher perante o marido. Tudo isto mudou com o 25 de Abril”. O próprio poder local foi uma conquista de Abril que permitiu construir e desenvolver o País e tem tido um papel fundamental como agente de mudança e consolidação da democracia junto das populações, disse. “A História faz-se de acontecimentos e de evolução e a Democracia, apesar dos seus defeitos (que são censuráveis) tem enormes vantagens, porque hoje as situações já não são silenciadas e há que lutar para que o sistema seja cada vez melhor”.
Relativamente ao livro “Os Rapazes dos Tanques” resta acrescentar que pela primeira vez (de acordo com os seus autores) foi dada voz a furriéis e cabos que não obedeceram às ordens de fogo do brigadeiro comandante das forças fiéis ao regime – um ato de justiça aos que estando, numa primeira fase, na defesa do regime arriscaram a vida e souberam estar à altura do desafio. Entre eles está o cabo apontador cuja ação Salgueiro Maia considerou decisiva para a vitória das forças revoltosas.
Os Rapazes dos Tanques simboliza em Salgueiro Maia e em todos eles a homenagem que Portugal presta, 40 anos depois, aos militares que derrubaram a ditadura.
Por: Município de Albufeira
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