Desporto

Vítor Lopes (CG Vilamoura) vice-campeão no Estoril

Lara Vieira e José Maria Caeiro estrearam-se em 2014 como campeões do Circuito Liberty Seguros, o mais importante da Federação Portuguesa de Golfe.

Lara Vieira e José Maria Caeiro, campeões no Estoril - foto Rui Frazão

Lara Vieira e José Maria Caeiro, campeões no Estoril – foto Rui Frazão

Foram dois finais de prova a ferver de emoções. Lara Vieira, do Clube de Golfe do Santo da Serra, bateu no play-off Joana Silveira, do Club de Golf de Miramar, depois de terem empatado aos 36 buracos com 151 pancadas, 13 acima do Par.

Quanto a José Maria Caeiro, a jogar “em casa”, partiu para o último buraco com 1 pancada de atraso, mas acabou por vencer por 1 Vítor Lopes, do Clube de Golfe de Vilamoura, com um agregado de 135 pancadas, 3 abaixo do Par.

Circuito bem partilhado

Depois de Susana Ribeiro nos Álamos e no Campeonato Nacional (amador), e de Rita Félix na Estela e em Montebelo, foi a vez de Lara Vieira levar a melhor no Estoril, sendo este um regresso saudado, por ser o seu primeiro título ao mais alto nível desde que ganhou em 2011 em Santo Estêvão um torneio deste circuito da FPG.

No setor masculino, José Maria Caeiro sucedeu a Rafael Gaspar, campeão nos Álamos; João Magalhães, vencedor na Estela; Gonçalo Costa, que triunfou em Montebelo; e Tomás Silva, que se sagrou campeão nacional amador.

Se Lara Vieira, de 29 anos, aproveitou da melhor maneira a ausência das cinco primeiras do Ranking Nacional BPI, mostrando que, se a advogada quisesse e pudesse, ainda poderia bater o pé às melhores golfistas nacionais, já José Maria Caeiro tem de ser considerado a revelação da época e um dos mais inesperados campeões nos últimos anos do Circuito Liberty Seguros.

Revelação José Maria Caeiro

É um jovem de apenas 15 anos, que iniciou o torneio com handicap 6 EGA (diz ele que vai agora subir para 3 EGA), que nunca foi chamado a seleções nacionais da FPG, que não aparecia em nenhuma hierarquia relevante da FPG, quer no Ranking Nacional BPI, quer no Ranking de Ouro do Circuito Liberty Seguros!

É um talento nato, mas acordou tardiamente para o golfe e está longe de ser considerado um fenómeno de precocidade: «Comecei a jogar quando tinha 9 anos porque o meu pai, Pedro, já jogava. Sempre joguei aqui, no Estoril e nunca pratiquei outro desporto a sério. Sinceramente, até há pouco tempo jogava mal, nunca ganhei nenhum torneio importante e no verão do ano passado, desmotivado, até parei de treinar».

Como se explica que, apesar da ausência dos três primeiros do Ranking Nacional BPI, tenha, ainda assim, vergado adversários que integram a seleção nacional amadora da FPG que disputou recentemente o Campeonato da Europa Amador (como Vítor Lopes e João Magalhães) e dois jogadores como Rafael Gaspar e João Magalhães, que este ano já venceram torneios do Circuito Liberty Seguros?

«O fator casa foi muito importante – explicou – porque é preciso conhecer bem este campo. Mas a diferença foi o Miguel Nunes Pedro. Desde que ele veio para treinador do clube, em janeiro, que tenho trabalhado com ele. É muito bom treinador, para além de um grande motivador. Há um mês senti-me finalmente a jogar bem num torneio do clube e este torneio foi a continuação disso».

«O José Maria tinha um enorme potencial e cresceu muito desde janeiro porque tinha perdido o swing. Tive de trabalhar com ele os básicos, o grip e a postura. É um rapaz espetacular, que gosta imenso deste jogo e isso é o principal, mas é mais do que isso, ele tem uma distância incrível e está finalmente a aprender a jogar, que é algo diferente de apenas bater bem na bola», dissecou Miguel Nunes Pedro, um treinador muito elogiado pelo presidente do seu clube, José Sousa e Melo.

«Está a fazer um grande trabalho desde que chegou ao Estoril», disse o popular “Zézinho”, seguramente orgulhoso deste fim de semana em que Tiago Cruz e Tomás Silva, ambos do Estoril, foram campeão e vice-campeão no Open da Ilha Terceira (do PGA Portugal Tour), ao mesmo tempo que José Maria Caeiro e José Maria Pinto Basto, também do Estoril, venceram, respetivamente, as classificações gross e net deste torneio do Circuito Liberty Seguros.

José Maria Caeiro fica agora à espera «de uma primeira chamada a um estágio da seleção» e os sucessos dos jogadores do clube não lhe são indiferentes: «Sou amigo de todos e é claro que estava interessado em saber o que se passava na Terceira». O seu ídolo é, contudo, «Rory McIlroy, não só porque bate longe mas pelo swing que tem».

Regresso ao passado da advogada

O norte-irlandês, recente vencedor do British Open, foi, curiosamente, também nomeado como referência por Lara Vieira: «Agora, como diz o Rory McIlroy, tendo a desfrutar mais do processo e a não olhar tanto para o resultado».

O “agora” da madeirense alude a um presente bem diferente do de José Maria. Se ele sonha, aos 15 anos, com uma primeira internacionalização, ela sabe, aos 29, que os tempos de glória no golfe já lá vão. Esteve em seleções nacionais da FPG em Campeonatos do Mundo Amador em 2002 e 2004, deixou de treinar a sério «lá para 2005 e 2006», dedicou-se aos estudos porque «nessa altura, como agora, não é fácil tomar a decisão de passar a profissional, devido às condições que temos», mas admite que, depois de concluir a licenciatura em Direito, não foi um dilema decidir que profissão seguir: «Deixar o golfe (e seguir a advocacia) foi uma decisão difícil, mas foi natural e a transição para o mundo do trabalho também».

Isso não quer dizer que a campeã nacional de 2002 não tenha o “bichinho” dentro dela. «Sinto falta desta competição. É sem dúvida uma grande satisfação voltar a ganhar um torneio deste nível, mesmo sabendo que não estão cá as melhores. Sobretudo para quem já não está na alta-roda. O escritório de advogados é nas Amoreiras (Lisboa) e, quando posso, vou ao Jamor treinar. Também treino no fim de semana, mas é claro que tento dar um desconto a mim própria e tendo a ser mais tolerante. Já não posso exigir o mesmo do que quem treina todos os dias».

Quando ganhou tudo o que havia para ganhar em Portugal em 2002 era treinada por João Silva, o carismático profissional do Santo da Serra. O seu falecimento há uns anos deixou-a de luto até hoje: «Desde a morte do João que me treino a mim própria, mas uma das resoluções que tomei para este ano foi tentar encontrar ajuda porque é sempre mais limitado aquilo que podemos fazer por nós».

«Só posso jogar os torneios que são ao pé da área de residência», acrescenta a madeirense, residente em Lisboa. Este ano não jogou nos Álamos (Algarve) em janeiro, na Estela em março e em Montebelo em maio. Poderia ter ido ao Campeonato Nacional à Quinta do Peru em abril mas «quatro dias, implicando faltar pelo menos dois ao trabalho, era complicado». Portanto, este foi o seu primeiro torneio do ano ao mais alto nível e saiu logo vencedora!

Poderia embandeirar em arco, mas preferiu elogiar a jovem que derrotou no play-off: «A Joana tem muito talento. Já tinha jogado no mesmo grupo dela no ano passado e evoluiu imenso. Se quiser, poderá fazer do golfe a sua profissão. Para mim, é incentivador e motivador jogar com quem é melhor e aprendo sempre. Ela teve azar no play-off, naquele segundo shot, mas joga muito bem».

Joana Silveira, recorde-se, só começou a jogar em 2011 e tem evoluído imenso este ano. Ganhou o Campeonato Nacional de 2.ª Categorias e o Campeonato Nacional de sub-14. Disputou o seu 6.º play-off de 2014 e ainda só ganhou um, mas é com todo o desassombro que diz que «é assim que se aprende»… e ainda venceu a classificação net.

Finais de torneio emocionantes

O final dos dois torneios foi emocionante. Comecemos pelo feminino. No play-off, as duas falharam o fairway à esquerda, mas ficaram frontais ao green. Lara, mais curta, como de costume, faz a bola da sua segunda pancada embater na copa de uma árvore à direita, mas tem um bom lie. Já Joana ultrapassa o green à direita e fica com um shot difícil porque o follow through embate nos ramos de uma árvore pequena. Lara é a primeira a bater o terceiro shot e embora o approach bata uns três metros antes da bandeira, a bola rola para uns bons quatro metros para lá do buraco. Já Joana não consegue mais do que um chip and run que rola tanto que vai para fora do green. O primeiro putt de Lara fica mesmo junto ao buraco e pede para terminar primeiro com um tap-in. Pressionada, Joana tenta patar de fora do green e deixa a bola a uns cinco metros. Tem putt para empatar e levar a decisão a um segundo buraco de play-off, mas falha à direita e levanta a bola.

No torneio masculino a emoção não foi menor, mesmo sem ir a Play-off. José Maria Caeiro, Vítor Lopes e Bernardo Frère estão empatados no buraco 14 e no 15. No 16 (Par-3), Vítor foi o único a chegar ao green e faz o Par, os outros dois bogey. O algarvio, vindo de uma vitória no Oceânico World Kids no Algarve, estava a ganhar por 1 pancada. No buraco 17 Bernardo Frère comete outro erro e fica a 2 pancadas do líder. Quando, no 18, a sua pancada de saída embateu numa árvore e fica pouco mais à frente do tee vermelhos, o jogador do Estoril e ex-jogador do Oitavos Dunes sabia que tinha o título perdido.

Tudo iria decidir-se entre Vítor Lopes e José Maria Caeiro. O algarvio de Vilamoura foi o primeiro a sair, tinha 1 de vantagem e visou o green com o drive (um Par-4) mas foi parar a um caminho de buggy lateral ao tee do buraco 1. «Quando vi que ele tinha falhado o shot, pensei que tinha uma hipótese e poderia recuperar a pancada de atraso», recorda José Maria que, por seu lado, conseguiu chegar ao green.

Vítor Lopes estava sob pressão e solicitou um free drop que não lhe foi dado pelo árbitro Jorge Goeben. Esta numa encruzilhada: dropa e perde a vantagem? Ou arrisca jogar do empedrado com um caixote do lixo e uma vedação metálica pela frente? É o que faz, arrisca, mas ultrapassa o green.

O chip a seguir é bom, mas já não tem a pancada de vantagem. O “mano-a-mano” atinge o rubro e José Maria não treme, deixando um primeiro putt a dois metros e meio da bandeira. Vítor sabe que tem de meter o putt e falha-o por escassos centímetros, pelo que José Maria sabe que se concretizar o seu putt de dois metros e meio vence, mas se o falhar irá a play-off. Parecendo um veterano nestas andanças, mete o putt e celebra a sua primeira grande vitória em torneios federativos.

Resultado igual aos profissionais

O 4.º evento da época no Circuito Liberty Seguros marcou um regresso ao histórico Club de Golf do Estoril. O presidente do clube, José Sousa e Melo, na cerimónia de entrega de prémios, dirigida por Rui Frazão da FPG, referiu que «há muito tempo não recebíamos uma prova da FPG» e mostrou-se orgulhoso desse facto.

Note-se que, há três semanas, foi o circuito de profissionais, o PGA Portugal Tour, que passou pelo Estoril pelo segundo ano consecutivo, depois de um hiato de 11 anos.

Há, portanto, um esforço real do mais histórico clube do sul de Portugal em receber de novo, regularmente, os melhores jogadores nacionais, amadores e profissionais.

É um retorno que se saúda a um palco antigo do Open de Portugal, por ser um campo diferente, um traçado do clássico McEnzie Ross, que não parece comprido mas ensina os jogadores a pensar em como dominar um Par-69 aparentemente fácil mas realmente complicado.

Aliás, é curioso notar que se Hugo Santos ganhou o torneio de profissionais há três semanas com 3 pancadas abaixo do Par, foi exatamente com esse mesmo “score” de -3 que José Maria Caeiro triunfou. Ele e Vítor Lopes foram os únicos a vergar o Par do campo em 36 buracos.

Principais resultados

TORNEIO FEMININO

1.ª Lara Vieira (Santo da Serra), 151 pancadas (voltas de 74+77), 13 acima do Par.

2.ª Joana Silveira (Miramar), 151 (75+76), +13

3.ª Bárbara Netto-Bradley (Quinta do Fojo), 157 (82+75), +19

TORNEIO MASCULINO

1.º José Maria Caeiro (Estoril), 135 (67+68), -3

2.º Vítor Lopes (Vilamoura), 136 (68+68), -2

3.º Bernardo Frère (Estoril), 138 (68+70), Par

Por: Assessoria de Media da Federação Portuguesa de Golfe

Categorias:Desporto, Quarteira

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