Opinião

O primeiro grande erro do SYRIZA comparável ao grande erro de Cavaco

Artigo de Opinião de Jorge Matos Dias

Desde o início desta crise que venho defendendo a necessidade de surgir um Paladino que confronte os ‘donos do dinheiro’ e os governantes alinhados com os mesmos. Um Paladino que mostre ao Mundo que o caminho para combater a crise não é a austeridade mas sim a baixa de impostos.

Quando o Papa Francisco foi eleito, pensei que poderia ser ele esse Paladino. Tem dado sinais nesse sentido. No entanto, não tanto como eu esperava.

Quando o Syriza ganhou as eleições da Grécia, soprou uma lufada de ar fresco na Europa e no Mundo. Seria Tsipras esse Paladino? Tudo indicava que sim.

syriza

Após tomar posse, Tsipras recebeu, em primeiro lugar, o Embaixador da Rússia. Não foi um acaso nem uma mera circunstância. Foi um ato com um significado político da mais profunda importância.

Foi Tsipras a virar costas à União Europeia e a mostrar o seu alinhamento com a Rússia.

É este o primeiro erro grave de Tsipras. As coisas não vão bem na UE e os estados-membros descontentes têm de procurar alterar o estado de coisas no seu seio. A Grécia é um dos estados-membros descontente mas continua a ser um estado-membro. Continua na Zona Euro. Portanto, a Grécia de Tsipras tem, obrigatoriamente, de procurar alterar o rumo das políticas dentro da própria UE e não procurando alianças fora dela. Isto é, no mínimo, uma deslealdade, uma traição, para além de ser contraproducente. Atitudes destas provocam revolta nos estados-membros mais ricos que podem tornar-se ainda mais prepotentes.

Também concordo que as políticas económicas e financeiras impostas pelo eixo Alemanha/França apenas beneficiam os estados-membros ricos, do Norte da Europa, e penalizam os estados-membros mais pobres, do Sul e do Leste da Europa.

Ouvimos frequentemente dizer que quem manda é Bruxelas. As pessoas esquecem-se que Bruxelas somos todos nós, todos os estados-membros. A União Europeia é uma democracia e as políticas são definidas pela maioria.

A maioria dos estados-membros são pobres e os ricos estão em minoria. Há aqui qualquer coisa que não bate certo. E o que não bate certo é a política das alianças internas.

E aqui chegamos ao grande erro de Cavaco, enquanto primeiro-ministro, no contexto da UE: Alinhou-se com a Alemanha, como se Portugal também fosse um país rico.

Digo que foi um grande erro porque os interesses de Portugal estão bem longe de serem os interesses da Alemanha. As necessidades de Portugal estão bem longe de serem as necessidades da Alemanha. E assim Cavaco colocou Portugal numa posição de subserviência face à Alemanha. Posição que se manteve até hoje.

Portugal deveria, no seio da União Europeia, promover uma política de alianças com os estados-membros com os mesmos interesses e as mesmas necessidades, ou seja, os estados-membros do Sul da Europa e os novos estados-membros do Leste da Europa. Todos unidos, formariam uma maioria confortável e poderiam definir as políticas da União Europeia.

A Grécia de Tsipras, se pretende mudar alguma coisa na União, deveria seguir este caminho. Virar as costas à UE e alinhar-se com a Rússia é um erro gravíssimo, não apenas para a Grécia mas todos nós porque esse caminho não leva a nada e as políticas da UE continuarão iguais, se não passarem a ser ainda piores.

Tsipras teria toda a legitimidade de escolher esse caminho se a Grécia saísse da Zona Euro ou mesmo da União Europeia. No entanto, isso não acontecerá. Não pode acontecer. Não nas atuais circunstâncias.

Portanto, com esta atitude, não se vislumbram melhoras nas condições de vida das vítimas da crise e dos mais desfavorecidos. É pena.

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