Quarteira

Enterro do Entrudo | Cumpriu-se a tradição em Quarteira (42 fotos)

A cidade de Quarteira encerrou ontem à noite a Quadra Carnavalesca com o Enterro do Entrudo, uma tradição quarteirense nascida há 24 anos e que todos os anos se vem reavivando, envolvendo a comunidade local e atraindo muitos visitantes e turistas.

Tudo começou pelas 21 horas com o ponto de partida localizado na Rua da Alegria, com o ‘carro funerário’ a percorrer boa parte das artérias da Quarteira antiga, num ‘funeral’ ao qual se foram juntando muitas pessoas à sua passagem, atraídas pelos gritos lamuriantes das viúvas inconsoláveis.

O funeral culminou na Praça do Mar, onde já havia uma boa moldura humana à espera das ‘exéquias finais’, altura em que foi lido o Testamento do Entrudo, em forma de quadras, cuja tónica dominante foi a sátira às figuras maiores da política portuguesa, sobretudo governantes e ex governantes.

Lido o Testamento, o funeral seguiu para o areal, onde o caixão foi ‘enterrado’.

A tradição do Enterro do Entrudo

O Enterro do Entrudo é um ritual pagão secular que encerra o período de folia dos festejos carnavalescos. Por um lado, extravasa todas as tensões e energias. Por outro lado, prepara o espírito para o sossego da Quaresma que se aproxima.

Diz a tradição que, na noite de Carnaval, a rapaziada corre em cortejo as principais ruas da localidade onde é comemorado, levando numa padiola um defunto fictício e nas mãos os fachuqueiros ou “chafusqueiros” (pedaços de palha de centeio atados para que não queimem depressa demais) a arder. Transportam, também, chocalhos, latas velhas e penicos. Ao percorrerem as ruas, durante a noite, fazem um funeral simbólico, cantando num barulho ensurdecedor: “Ó meu Entrudo, Cabeça de Burro, Roubaste-me a Chicha e Deixaste-me os Ossos!”. Outros jovens transportam baldes de farinha que lançam aos curiosos que lhes aparecem pelo caminho ou os que assomam às janelas.

Carnaval também é sinónimo de Entrudo, tendo sido registado por D. Afonso III em 1252. “Entrudo”, que deriva do latim “introitu”, quer dizer, começo… é portanto o intróito à Quaresma Cristã, sentido que se sobrepôs a festividades pagãs que assinalavam o início de um novo ciclo agrário”.

Era vulgarmente uma vingança dos rapazes aos velhos mais embirrentos, aproveitando o facto de que “no Carnaval ninguém leva a mal”.

Caçada era outra das brincadeiras. Dentro de uma lata velha, lata e loiças quebradas (cacos) que de longe atiravam para dentro de uma casa, onde as pessoas desprevenidas se assustavam.

É, porém, o Enterro do Entrudo que se realiza em Quarta-feira de Cinzas que mantém toda a tradição e grande popularidade.

Atrás de um boneco de palha cheio de bombas de foguete e que é transportado numa padiola (maca), centenas de populares percorrem as ruas, gritando como se estivessem chorando um ilustre morto. Chegados à Praça, é ensaiado um discurso acusatório do Carnaval. Depois, o boneco é queimado numa fogueira entre o barulho das bombas rebentando. De regresso a casa, vão cantando músicas alegres e a tocar os chocalhos.

Também em Quarteira era costume queimar um boneco na praia mas nos últimos anos esse detalhe não tem acontecido.

Seja como for, Quarteira lá vai reavivando a tradição do Enterro do Entrudo, tradição essa que comemora no próximo ano um quarto de século.

Quarteira, uma terra de tradições graças à grande capacidade de mobilização das suas gentes, fazendo de cada evento um verdadeiro sucesso. O Enterro do Entrudo 2015 não fugiu a esta regra.

Texto e Fotos: Jorge Matos Dias / PlanetAlgarve

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