A exposição de arqueologia de rua itinerante sobre as estelas com escrita do Sudoeste e a Idade do Ferro, organizada pela Câmara Municipal de Loulé, pelo Museu Nacional de Arqueologia da Direção Geral do Património Cultural, pelo Projeto ESTELA e pelo Projeto Eurovision, será inaugurada na entrada do Museu Nacional de Arqueologia em Lisboa, às 21h00 deste sábado, dia 30 de maio, e estará patente ao público até ao dia 27 de setembro.
A escrita do Sudoeste é a voz que nos aproxima dos pensamentos e modos de vida do passado, um dos mistérios e um dos maiores tesouros da arqueologia europeia, uma realidade arqueológica de cariz excecional, uma imagem de marca da serra que divide o Alentejo e o Algarve e um símbolo privilegiado da herança histórica da região. Ela é, afinal, a primeira manifestação, bem caracterizada, de escrita da Península Ibérica e uma das mais antigas da Europa e que está, ainda hoje, por decifrar.
A exposição está concebida para mostrar como este fenómeno resulta de um processo histórico e patrimonial e vai interagir com o espaço público. Localizada na entrada do Museu Nacional de Arqueologia, após mais de dois séculos de investigação sobre o tema, a exposição apresenta conteúdos escritos devidamente ilustrados e está organizada para dar a conhecer este período, a escrita do Sudoeste, onde habitavam e como viviam e morriam essas comunidades, os investigadores, os conjuntos de estelas conhecidos em Loulé e a importância do Museu Nacional de Arqueologia na preservação e investigação destes materiais arqueológicos.
Os conteúdos são sucintos e concentrados na transmissão das ideias principais, num discurso contemporâneo e criativo que satisfaz mais do que um tipo de visitante, ou seja, é transversal nas faixas etárias, no nível de conhecimento e nos graus de interesse. Assegurou-se ainda que a exposição não tem constrangimentos de acessos e horário, proporcionando ao visitante uma curta duração no tempo de visita. Refira-se ainda que esta é bilingue (português e inglês), permitindo uma compreensão dos conteúdos por visitantes além-fronteiras.
No âmbito da inauguração desta exposição também haverá uma evocação dos 35 anos da exposição “A I Idade do Ferro no Sul de Portugal: Epigrafia e Cultura“, inaugurada em 1980 neste Museu. Exposição que, por um lado, reuniu o maior conjunto de estelas e as relacionava com os sítios arqueológicos, tendo servido de base a importantes estudos sobre os problemas e o sistema desta escrita. E por outro, apresentou alguns dos objetos mais emblemáticos ligados à investigação sobre a escrita do Sudoeste e à Idade do Ferro que se encontram depositados no Museu Nacional de Arqueologia.
Ainda neste âmbito, haverá lugar a uma abordagem contemporânea do tema pelos artistas plásticos El Menau e Ângela Menezes através da apresentação de uma pintura mural sobre o tema. Esta última irá também revelar uma instalação contemporânea no espaço contíguo à exposição.
Durante os meses de exibição da exposição haverá lugar a um extenso planto de atividades onde se incluem a apresentação da exposição no Programa “Encontros com o Património” da estação de rádio TSF, a apresentação de um documentário sobre a evolução que houve sobre o tema, um concurso literário, um ciclo de debate cientifico sobre o tema, a apresentação de uma estela com escrita do Sudoeste, visitas guiadas, regulares e diversificadas atividades infanto-juvenis e muitas outras.
Sobre a escrita do Sudoeste
Na Península Ibérica, há mais de 2500 anos, numa época de grandes inovações tecnológicas e transformações culturais, os povos do Sul de Portugal e da Andaluzia, a partir do alfabeto fenício vindo do Mediterrâneo Oriental, criaram uma escrita própria da língua falada na região: a escrita do Sudoeste. Concentrados na serra do Algarve, existem poucos vestígios desta escrita, cerca de cem, e a maioria é encontrado em estelas: blocos de pedra fixados no solo, onde o texto era gravado e escrito em arco, na direção contrária à nossa: de baixo para cima e da direita para a esquerda. É nesta região que autores da antiguidade clássica referem a existência de gente especialmente culta e desenvolvida. Segundo Estrabão (historiador e geógrafo grego do século I d.C.) “possuem uma gramática e escritos de antiga memória, poemas e leis em verso”.
A distribuição espacial das estelas, no atual território português, assinala que a serra de Mú e Caldeirão, entre o Algarve e o Baixo Alentejo, é um dos epicentros deste fenómeno. Aqui, podem ser assinaladas dois conjuntos, um a Sul, na transição da Serra com o Barrocal, entre Benafim e Salir, onde foram encontradas as estelas da Fazenda das Alagoas, Viameiro e Barradas e que com as estelas encontradas em Bensafrim (Lagos) e São Bartolomeu de Messines (Silves) traçam o limite Sul da concentração de estelas com escrita do Sudoeste. E o outro, a Norte, em torno das Ribeiras do Vascãozinho, Vascanito e do Vascão, confirmando este local com uma das três principais concentrações deste tipo de vestígios epigráficos, que engloba sítios arqueológicos hoje localizados em Loulé e em Almodôvar.
O primeiro fragmento de uma estela com escrita do Sudoeste do concelho de Loulé foi encontrado em 1897. Mais de uma centena de anos depois, a identificação destes monumentos epigráficos deve-se ao precioso contributo de inúmeros louletanos, investigadores e apaixonados pela arqueologia, como o Prior de Salir, José Rosa Madeira, José Viegas Gregório, Isilda Martins e Victor Borges. A eles se juntam ainda investigadores como Ataíde de Oliveira, José Leite de Vasconcelos, Manuel Gómez de Sosa, Caetano de Mello Beirão, que contribuíram para a identificação de dez estelas repartidas pelos conjuntos de Benafim/Salir e do Ameixial e para a investigação da escrita do Sudoeste.
Por outro lado, o Museu Nacional de Arqueologia é atualmente a instituição com a maior coleção de estelas com escrita do Sudoeste, o que faz dele um dos locais obrigatórios para a sua investigação e divulgação.
A importância deste património arqueológico foi recentemente reconhecida pela BBC que esteve a filmar as estelas com escrita do Sudoeste e a paisagem onde estas foram encontradas nos concelhos de Almodôvar e Loulé para a realização de um novo documentário histórico de três episódios que irá ser apresentado até ao final do ano.
A exposição resulta de uma colaboração da Câmara Municipal de Loulé com o Projeto ESTELA. Este projeto tem a preocupação de transformar o conhecimento científico adquirido no reforço da identidade das pessoas com o seu património e de criar com esta informação uma paisagem cultural. Nascido em 2008, tem por primeiro objetivo a sistematização da informação das estelas com escrita do Sudoeste, através da caracterização dos contextos, da cultura material e do território dos sítios arqueológicos da serra do Algarve e do Alentejo, contribuindo para a revisão e produção de conhecimento sobre a sociedade que aí habitou, nos meados do 1º milénio a.C.
Vídeo da execução da exposição
https://www.youtube.com/watch?v=LGynzMVfLM8&feature=player_detailpage
Conteúdos da exposição
Por: Município de Loulé
- El Menau em criação artística sobre a Escrita do Sudoeste na Praça do mar, em Quarteira – foto Jorge Matos Dias / PlanetAlgarve
- Estela com Escrita do Sudoeste
- Estela com Escrita do Sudoeste







