A preocupação das entidades públicas pela preservação do património histórico e cultural tem deixado muito a desejar nos últimos anos.
Três exemplos recentes, em contextos completamente distintos, são o Programa REVIVE, o Forte de S. João da Barra em Tavira e o Solar da Fonte da Pipa em Loulé.
A nível nacional, a desresponsabilização do Estado torna-se bem patente ao analisarmos o Programa REVIVE, recentemente divulgado. No Algarve, pelo menos dois dos três edifícios que o governo colocou agora à disposição das entidades privadas já tiveram planos de intervenção, os quais, no entanto, nunca foram postos em prática. É o caso do Forte do Rato (Tavira), edifício seiscentista incluído há anos pela Direcção Regional da Cultura na lista dos monumentos a requalificar, e dos Armazéns Pombalinos da Boca do Rio (Vila do Bispo), propostos, na última década do séc. XX, como pólo museológico, juntamente com as ruínas romanas envolventes e o espólio arqueológico do navio-almirante francês L’Océan aí afundado, em 1759, frente à costa.
Estes dois monumentos encontram-se, ainda por cima, situados no interior de zonas sensíveis de áreas protegidas. Que planos poderão ter as entidades privadas para um edifício situado em pleno areal da Boca do Rio (PN do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina) ou para um forte localizado no PN da Ria Formosa ? Dois hotéis, o primeiro numa praia praticamente selvagem, o segundo em zona de sapal de uma área onde a tónica tem vindo a ser dada não à requalificação mas sim às demolições ?
O Forte de S. João da Barra, em Cabanas de Tavira, construído no Séc. XVII e classificado como Imóvel de Interesse Público em 1960, numa época em que já era propriedade privada, foi há anos recuperado e transformado num pequeno hotel rural. O actual proprietário decidiu recentemente vedar toda a área circundante, impedindo a aproximação às imponentes muralhas e a passagem de caminhantes pelo trilho litoral sobranceiro à Ria Formosa, pondo em causa o usufruto público deste espaço. O Parque Natural e a Direcção Regional da Cultura até agora nada fizeram para inverter esta situação.
Relativamente ao Solar da Fonte da Pipa, construído no Séc. XIX e incluído no PDM de Loulé como Imóvel de Interesse Público a Classificar, encontrava-se há anos em avançado estado de degradação, tendo sofrido um golpe fatal, na passada semana, com um incêndio cujas causas continuam por apurar.
Propriedade de um enigmático “fundo de investimento” que pretendia transformar o palácio e toda a quinta envolvente num resort de luxo com cerca de 500 habitações, mesmo à entrada da cidade de Loulé, não mereceu, da parte do Município, a atenção devida ao seu significativo valor monumental, nunca chegando a ser classificado.
Neste caso, a Associação Almargem considera imprescindível que o Município assuma de vez as suas responsabilidades, estabelecendo um acordo com os proprietários, de forma que a Quinta da Fonte da Pipa e o seu solar sejam transformados num centro de cultura e ambiente, um pouco à semelhança do que aconteceu com a Quinta de Serralves no Porto.
Por: Associação Almargem
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