Algarve

3.º dia da Algarve Tech Hub Summit | Território e Turismo: Começar por onde?

“A paisagem não tem dono”, a referência à intervenção de Fernanda Fragateiro surgiu durante a intervenção do geólogo, urbanista e presidente do Instituto de Geografia e Ordenamento do Território (IGOT), da Universidade Nova de Lisboa, José Manuel Simões, no segundo dia da conferência internacional INOVA Algarve 2.0, inserida na programação do Algarve Tech Hub Summit (ATHS). A apresentação “Território e Turismo” identificou os problemas da região e apontou exemplos do que tem sido feito noutras geografias.

A partir do modelo da intervenção “Six Memos for the Next Millennium”, de Italo Calvino, José Manuel Simões falou sobre a rapidez e a velocidade na produção de informação, nas mudanças tecnológicas, nas transformações urbano-turísticas e na criação de “não lugares”; as alterações climáticas e a subida do nível das águas e a pressão sobre as construções locais; sobre a necessidade de seletividade e integração dos recursos patrimoniais e o papel da criatividade artística na geração de novas motivações turísticas, tal como, a street art ou a arquitetura.

Chamou a atenção para os eventos que podem alavancar as cidades, “como aconteceu com a Expo’98 em Lisboa, o Carnaval de Loulé ou o Festival de Chocolate em Óbidos, que se tornaram imagem de marca e atraíram novos públicos”, ou o papel das certificações e o reconhecimento, “seja a Bandeira Azul, o selo Clean & Safe ou as distinções, como os World Travel Awards, que deram protagonismo a Portugal”.

“Mas…”, a conjunção adversativa que muda a direção do olhar e do pensamento, surgiu para mudar a direção da intervenção. O presidente do IGOT apontou as “complexidades burocráticas e a insuficiência do sistema, os incumprimentos legislativos e os ‘compadrios’”, que adaptam as regras a cada situação e atrasam as decisões. Trouxe exemplos de “agressões” ao longo da costa algarvia, nomeadamente, o caso de Sagres e mostrou a estrada de entrada na cidade pouco atrativa e descaracterizada, o estacionamento sem regras, a ocupação da ciclovia, a desatenção dada a quem vive e usa os acessos o ano inteiro. Quando adiante a audiência questionou “Por onde começar?”, gracejou: “Uma bola de cristal dava jeito”.

Mas recuperando o exemplo que trouxe para a conferência sugeriu que se começasse por ali mesmo: “Pode ser por Sagres, o lugar do melhor vento do mundo, se o problema da ‘porta de entrada’ fosse resolvido podia tornar-se um modelo. O local tem que ter uma palavra a dizer. Podemos aplicar a máxima: pensar global e agir localmente”.

O investigador apontou caminhos: “Seguir novas tendências, conceber novas experiências envolvendo as comunidades.” E concluiu o último ponto que Calvino não chegou a apresentar: a consistência e a coerência. Referiu “a necessidade de coerência de políticas e estratégias, da articulação aos vários níveis das políticas nacionais, regionais e locais; de melhorar o
conhecimento e a concertação de estratégias regionais e locais e de refletir sobre os conceitos produzidos pelas diferentes equipas consultoras”. Sobretudo, pediu coerência nas ações e valorização dos recursos e da história para valorização do território. “Ninguém discute a existência do monstro do Lago Ness e nunca foi visto, então, não vamos discutir se o Infante
Dom Henriques em Sagres é um mito ou realidade”.

Programa completo no site: algarvesummit.com

Categorias:Algarve, Turismo