“A Deriva Litoral” foi inaugurada na semana passada. Depois da reportagem da inauguração, apresentamos agora, em peças separadas, cada peça explicada pelos respetivos autores.
Esta é dedicada à pintura do betão do túnel e zonas adjacentes de acesso à praia em frente à Geladaria Roma.
O seu autor, o artista plástico Nuno Viegas, explica:
Andei aqui a pensar em várias maneiras de intervir neste espaço. A minha ideia inicial era outra mas, infelizmente, não houve tempo para a produzir. Eu trabalho muito com origamis e a minha ideia inicial era um barco de papel feito em origami, grande, em metal, mas o prazo apresentado não permitia produzir essa peça.
Neste momento, o meu trabalho é maioritariamente tridimensional mas representado no plano bidimensional, a pintura. Andei a pensar e acabei por embrulhar todo este betão que aqui está nesta zona específica, que para mim é muito importante. Trabalhei 15 anos na concessão desta praia, que é explorada pelo meu tio.
Então, neste espaço em concreto, comecei a pintar por meio de graffiti em 1999 e estas paredes, na minha adolescência, sempre foram mito apetecíveis mas nunca foram uma possibilidade legal. Dentro da possibilidade ilegal, estas paredes foram pintadas várias vezes mas nunca foi feito um trabalho, a meu ver, digno que merecesse estar aqui e que as pessoas pudessem passar e apreciar, «gosto, está bonito». Durante o tempo que estive a fazer esta peça, tive várias vezes esse input, as pessoas diziam que gostavam, que estava a ficar bonito, que estava a ficar melhor do que o que estava, este azul quarteirense é brutal, são alguns dos comentários que eu ouvia enquanto aqui estive a pintar. Quarteira e este local em específico, para mim, enquanto artista, tem sido um local, pelo facto de sermos uma cidade turística, que traz muitas pessoas para cá e, no meio de todas estas pessoas que veem cá parar, fiz muitas amizades com outros artistas que vieram para cá como turistas, acabei por conhecê-los e ainda hoje mantenho uma relação com eles. São meus amigos, são meus colegas, pintámos muitas paredes juntos e este é um dos sítios que, sempre que por aqui passávamos, pensávamos: «Mas que grande spot para pintar» mas realmente isso nunca aconteceu.
Portanto, após pensar muito, efetivei desta maneira, embrulhei todo este espaço com este padrão, que é cada vez mais uma assinatura do meu trabalho, que está patente em todo o meu trabalho. Fui buscar este azul alusivo a Quarteira, um azul que uso em vários trabalhos meus, é sempre o mesmo azul, um azul ultramarino. Uso sempre o mesmo código de cor, tento carregar sempre esta cor quando trabalho com azul. A base disso tem a ver com carregar sempre comigo a minha raiz, Quarteira. Em qualquer dos sítios onde pinto, seja na minha cidade ou em qualquer outro ponto do globo.
Por: Jorge Matos Dias / PlanetAlgarve













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