Saúde

Diabetes: a ameaça silenciosa para a visão dos portugueses

Alertam os especialistas da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia

Na semana em que se assinala o Dia Mundial da Diabetes (14 de novembro), a Sociedade Portuguesa de Oftalmologia (SPO) alerta os portugueses para o facto de a diabetes ser uma ameaça silenciosa para a visão e a principal causa de perdas graves de visão ou mesmo cegueira.

Existem diversos problemas que podem afetar a visão, entre os quais está a diabetes, uma doença que afeta mais de um milhão de portugueses, entre os 20 e os 79 anos1, e que pode levar ao aparecimento da retinopatia diabética.

A retinopatia diabética é uma complicação ocular decorrente da diabetes. O seu mecanismo resulta de fatores modificáveis e não modificáveis. Nos modificáveis estão os níveis de açúcar no sangue (glicemia), a hipertensão arterial, a dislipidemia (aumento dos níveis de lípidos no sangue), a obesidade e a função renal. Se estes fatores modificáveis não forem controlados, podem resultar numa lesão crónica e sustentada nos vasos sanguíneos da retina, que levam à falência dessa barreira e à oclusão vascular, causando a saída de líquido para a retina ou a sua microtrombose. Perante isto, a pessoa em questão poderá ter perdas graves de visão.

De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que há cerca de 146 milhões de adultos no mundo com retinopatia diabética. Carlos Marques Neves, coordenador do Grupo Português de Retina e Vítreo da SPO, afirma que “temos de fazer o possível para combater o atual cenário da doença, caso contrário prevê-se um crescimento deste número para cerca de 180,6 milhões em 2030. É alarmante e uma ameaça significativa para a qualidade de vida de muitas pessoas.” 2

No início da patologia, a retinopatia diabética pode ser assintomática e, portanto, não dar sinais. Por ser silenciosa, torna-se ainda mais perigosa. “É fundamental ir ao médico oftalmologista e fazer rastreios com regularidade, principalmente no caso de quem vive com diabetes tipo 2 (DT2). Perante o diagnóstico de DT2, deve ser realizado um rastreio de imediato e manter um acompanhamento regular. Já as pessoas com diabetes tipo 1 devem fazer a primeira consulta de oftalmologia nos primeiros cinco anos após terem sido diagnosticadas”, reforça o médico oftalmologista.

Globalmente, estima-se que há, pelo menos, 2,2 mil milhões de pessoas com deficiência visual, dos quais em, pelo menos, mil milhões – quase metade – a perda da visão poderia ter sido prevenida ou ainda não foi tratada.Fazem parte desta estatística cerca de três milhões de pessoas com retinopatia diabética.4

Carlos Marques Neves reforça: “A retinopatia diabética vai progredindo e pode originar alterações da visão de contraste, da visão das cores e da visão com pouca luz. O fator tempo é determinante para evitar consequências mais graves ou irreversíveis. A deteção precoce e o tratamento adequado são vitais para travar a progressão da doença.”

Para a SPO é crucial continuar a contribuir para a consciencialização e educação dos portugueses sobre a retinopatia diabética através da partilha de informação credível e relevante. Simultaneamente, motivar as pessoas que vivem com diabetes a procurarem um acompanhamento regular com médicos oftalmologistas, controlarem os seus níveis de açúcar no sangue, adotarem um estilo de vida saudável e seguirem as orientações médicas para minimizar o risco de desenvolver a doença.

Sobre a Sociedade Portuguesa de Oftalmologia

A Sociedade Portuguesa de Oftalmologia (SPO) foi fundada em 1939, com o objetivo de promover e contribuir para o desenvolvimento da Oftalmologia nos seus diferentes aspetos: comunitário e profilático, assistencial e curativo, científico, pedagógico e de investigação, com respeito pela ética e deontologia profissional; defender os interesses dos seus associados, designadamente no domínio do exercício da profissão; e contribuir para a correta conceção de uma política de saúde no campo da Oftalmologia, com garantia de padrões de qualidade e competência consentâneos com as exigências da Ciência Médica.

Para mais informações, visite: https://spoftalmologia.pt/. 

Sobre a diabetes e a retinopatia diabética

A diabetes comporta-se como uma epidemia a par da obesidade. A diabetes apresenta complicações agudas e crónicas, dentro destas as oftalmológicas que resultam de uma lesão microvascular. Esta lesão microvascular da retina aumenta a probabilidade de cegar, em cerca de 25 vezes, na população geral, e é detetada em 16,3% dos diabéticos, podendo evoluir sem sintomas.

Assim, surge a necessidade da realização de rastreios para detetar a doença. Estes rastreios estão implementados nas diferentes Administrações Regionais de Saúde (ARS), ou no seu Oftalmologista, no qual deve realizar observações regulares de preferência com fotografias do fundo do olho.

É, desta forma, fundamental que todas as pessoas passem a informação de que é crucial fazer o rastreio da retinopatia diabética.

Referências

1 Sociedade Portuguesa de Diabetologia (SPD). (2019). Relatório Anual do Observatório Nacional da Diabetes. Disponível em: https://www.spd.pt/images/uploads/20210304-200808/DF&N-2019_Final.pdf. [Consultado em outubro de 2023].

2,3,4 Organização Mundial da Saúde (OMS). (2019). World report on vision. Disponível em: https://www.who.int/publications/i/item/9789241516570. [Consultado em outubro de 2023].

5 Direção-Geral da Saúde (DGS). Norma da DGS 016/2018. Disponível em: https://www.dgs.pt/directrizes-da-dgs/normas-e-circulares-normativas/norma-n-0162018-de-13092018-pdf.aspx. [Consultado em novembro de 2023].

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