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ESTÓRIAS DE LIVROS VIVOS: «… A limpeza dos sanitários – Quando lhes salta a tampa…», por Miguel Silvestre

Miguel Silvestre

«(…) – Isso não é p´ra cagar!! (…)» dizia a colega da limpeza empunhando uma esfregona na mão direita, fazendo face a um «meliante» que se introduzia sorrateiramente no cubículo masculino dos lavabos do Banco Central plantado em plena Avenida da Liberdade na tão nobre Capital Olisiponense.

– Eles cagam tudo!! Cagam tudo!! – Parece impossível… – Acabei mesmo agora de limpar. Isso não é para cagar!! (dizia a colega aflita apontando para os sanitários). Se quiserem ir à casa de banho, subam as escadas e vão às do quinto andar. Aguentem as molas, apertem-se, vão ver que conseguem lá chegar…

Os clientes mais corajosos, apertavam-se e a muito custo lá subiam as escadas cruzando as pernas. Os mais sortudos conseguiam chegar ao seu destino para efectuarem os respectivos depósitos (resquícios de juros antigos acumulados em contas a prazo), enquanto os menos afortunados (aqueles que tinham as molas frouxas) lá deixavam escapar algum perfume fétido enquanto subiam as escadas à custa de grande sacrifício. Mas nem um único, nem um único mesmo, arriscava a subir de elevador, não fosse a electricidade faltar causando uma paragem e consequente metamorfose da cabine e poço do elevador em fosso sanitário. Por sorte nenhum se “borrou”. Bem… que me lembre, ou de que tenha tido conhecimento. Contudo os lavabos estavam sempre limpos e impecáveis exalando um forte cheiro de tons florais e exóticos. Os clientes como forma de protesto de tanto extremoso zelo e limpeza, começaram a não puxar os autoclismos para efectuarem as respectivas descargas. Outra forma de protestar era também a de deixarem as tampas das sanitas propositadamente levantadas, mostrando à sociedade tudo o que realmente se quer esconder. Uma casa de banho limpa e asseada é um dos elementos chave no bom funcionamento de uma organização. Se assim não for, o caos espalhar-se-á rapidamente pelo organismo, e quando «a merda atingir a ventoinha», nem quero pensar. Salta-lhes a tampa da marmita e começam as próprias defensoras e guardiãs da salubridade a sabotar elas próprias o «regime», pois é a única arma que possuem para defenderem os seus direitos e trabalho árduo.

Nem todos estão dispostos a limpar os dejectos que os outros defecam. Nem todos os homens e mulheres se dobram para apanhar um pedaço de papel higiénico ou toalhetes do chão, ou outra insignificância qualquer. Cheguei então à conclusão que as colegas da limpeza é que detinham o verdadeiro poder na organização. Eram a pedra angular de todo o sistema financeiro salutar. A chave para a elaboração de um plano que se começava a formar na minha mente, o negócio do papel comercial…

Miguel Silvestre

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1 reply »

  1. Estórias? Em Portugal sabemos distinguir a história da Carochinha da História Universal. Porquê estes brasileirismos?

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