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ESTÓRIAS DE LIVROS VIVOS: «…A Oral de Direito…», por Miguel Silvestre

Miguel Silvestre

ab.ovo…(perdoem-me os Latinismos)… Certo dia, um orgulhoso repetente renitente da cadeira de Quadros Institucionais da Vida EconómicaIntrodução ao Estudo do Direito, um repetente in.veterado tornado Veterano… um daqueles alunos cujo nome do meio é «borga», de apelido «gafanhoto», Rei da Pândega, ministro da diversão, adjunto da alegria, praticante devoto de orais intercaladas a punho férreo ritmado e firmado nos manuais (autênticos calhamaços) da “dura lex” que fariam corar a própria Rainha Cleópatra se fosse ainda viva e viçosa, um ilustre “doutor” devoto da “Catáfora” (provocada pelo fumo das “brocas” fumadas nos intervalos intercalares entre as cadeiras do curso) e da “Análfora” (que praticava em horário nocturno sempre que conquistava uma colega do sexo oposto, seduzida pela sua prosápia e forte Priapismo Crónico de que sofria sempre que olhava para uma peça de roupa branca Académica, adornada por uma gravata negra que dividia os promontórios femininos de aquém e de além-mar) …

Ficou este cromo gravado nos anais (do latim annales) da sua faculdade pela razão pura e simples de um feliz pedido feito de ímpeto pleno de fulgor e pujança, atiçado pela malícia de um Professor que o atirara para uma humilhante oral de direito “homini ni sabis null”… (famoso ditado latino aprendido no primeiro ano da “Práxis” do curso de direito disfarçado de aula fictícia). Contudo esta Oral, a última do ano lectivo, não era uma mera aula fictícia de introdução ao estudo do direito como são as primeiras aulas que marcam a abertura do ano lectivo.

Era sim uma questão de vida ou de morte do “artista”. Esta era uma Oral à séria, Oral à boca cheia… O Professor, na sua posição de poder supremo, esmifrava o “doutor” com perguntas da mais variada natureza, com laivos de maldade e crueldade para com os animais.

O “doutor” já não era “besta”, era um “Veterano” da velha guarda com grande conhecimento do “direito” e do “torto” feminino, conhecia-lhes todas as curvas e nuances que palmilhava com a sua língua afiada molhando todas as palavras com a mesma saliva que usava para molhar o dedo e voltar páginas e páginas de cultura “erecta” por outros como ele que construíram desde a fundação da Universidade as bases de um saber retórico, inabalável e inquestionável compilado em pilhas e pilhas de Códices armazenados na tão nobre Biblioteca da Universidade…

O “doutor” suava desbragadamente, tremiam-lhe as pernas e a voz, coçava a cabeça nervosamente e secava-se-lhe a garganta e o Professor trocista não se inibia de colocar ao “doutor” as questões mais tortuosas do Direito.

A Oral durava já há bastante tempo, e tanto o “doutor” como o Professor Doutor estavam desejando que essa Tortura terminasse.

O Professor porque tinha fome e queria ir almoçar e o “doutor” porque se encontrava completamente extenuado e tonto de tanta pergunta disparada a tiros de língua que ecoavam na sua cabeça dormente e ausente por uma ressaca provocada pela Orgia da noite anterior.

A sua face estava lívida e o “doutor” começava a ficar pálido e depois verde, estava completamente enjoado e quase que vomitava em plena sala de aula. Quem olhava para ele, tão parado e ausente, quase que lhe detectava um certo Rigor mortis.

Nisto dá-se um revés na má-sorte do “doutor” que lhe iria mudar a vida por completo e projectá-lo para os píncaros do estrelato.

O Professor confiante que iria conseguir chumbar o aluno e oferecer-lhe um rabo-de-raposa para adornar a batina de Veterano, já bastante decorada com a mais variada e valiosa quinquilharia de tantos anos de prática e repetição, de tanta confiança que tinha, cometeu um erro fatal que lhe valeria uma primeira página anedótica no Jornal da Associação de Estudantes, transformando o “doutor” numa lenda até aos dias de hoje.

A Oral decorria na sala de aula à porta aberta. A certa altura passa um funcionário da Faculdade e o Professor não conseguiu resistir à tentação. Dirigiu-se ao funcionário e pede-lhe rudemente bem alto e em provocatório tom:

– «O Sr. aí… traga-me um fardo de palha…»

Ao que o “doutor” responde de imediato e de improviso com ar sério e compenetrado:

– E para mim pode ser um café e uma água se faz favor…!!…

A mente e intelecto do professor penetrado por tal ímpeto, fulgor e desembaraço do aluno, rendeu-se de imediato, mas à custa de algumas dores musculares sofridas no “rectum” (retórica da lei “consuetudinária”). A Oral acabou mesmo ali tendo ficado para os annales da história da faculdade. Não sei se o “doutor” passou ou não na Oral. Mas a todos disse que havia vencido esse Adamastor que o atormentou tão cruelmente em tão dura prova torta do Direito. Pois o interrogatório seguiu por caminhos travessos inaceitáveis para qualquer “doutor” que se digne deste epíteto…

Do Professor, não sei o que lhe aconteceu desde que virou anedota no meio académico. Do “doutor”, acho que chegou a deputedo de um partido em cacos qualquer (ilustre seguidor e defensor da legalização de tudo quanto é ilegal, mas apetecível e lascivo), levado em ombros pela Prole estudantil que lhe estendeu as capas negras da sotaina na calçada para que tão notável intelecto não sujasse os ilustres e lustrosos bragantes académicos aos quais dava graxa todos os dias…

Quid iuris?

– “…dura lex sed lex…”

Miguel Silvestre

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