Opinião

«Sou de Fora», por Desidério do Ó

Museu do Traje – São Brás de Alportel

Não ser da terra traz vantagens, uma delas é estarmos acima da espuma dos dias, conseguirmos ser mais objetivos na avaliação que fazemos das realidades. Aquilo que, visto de fora, parece harmonioso, esconde por vezes dinâmicas sub-reptícias que desvirtuam a aparente harmonia.

A primeira instituição desta terra que contactei foi o Museu do Traje. Satisfez-me o facto de aí existir uma oferta cultural variada, nada de normal num museu clássico. Percebi que o seu diretor é uma pessoa que apoiava e incentivava as iniciativas dos “Amigos do Museu”, embora ainda não tenha percebido qual o estatuto deste grupo de voluntários dentro da instituição.

Aí assisti, creio que no ano passado, a uma conferência da sra. vice-presidente da autarquia, Marlene Guerreiro, que explicou à assistência a relação entre a autarquia, a Santa Casa e o museu. De acordo com a referida senhora, as relações entre as três instituições estavam de boa saúde e imperava harmonia entre elas.

Subitamente este ano a harmonia implode: o provedor da Santa Casa suspende o diretor do museu, o presidente da câmara diz que não tem nada a ver com o assunto e as forças vivas da terra começam a posicionar-se.

E eu, que sou de fora, começo a perceber mais pormenores:

Afinal o diretor do museu e o provedor há muito que andavam de candeias às avessas, porque este último retinha o subsídio camarário e não o disponibilizava imediatamente para o museu.

O diretor do museu protestou, o provedor não gostou dos termos do protesto e suspendeu-o.

E eu pergunto-me: então o museu não tem um orçamento? O diretor é obrigado a pedinchar o dinheiro que lhe é devido?

Ora isto significa que este ou qualquer outro provedor dispõe de duas armas importantes: o dinheiro e o poder de suspender este ou qualquer outro diretor porque não há um estatuto que defina os direitos e deveres de ambas as partes.

E o que acontece se este ou outro provedor decidir extinguir as atividades dos “Amigos do Museu”? Também esta instituição não está protegida e isso é grave, dado o impacto que as suas atividades têm na comunidade.

Depois, e isto ainda é mais sério: o executivo camarário comporta-se como se nós todos fossemos estúpidos e não fosse público que o provedor e o executivo camarário são militantes do PS. A câmara agora disponibiliza-se para “colaborar na mediação da situação”. Então não sabiam que o conflito era latente? Sendo militantes do mesmo partido, porque não dialogaram, não procuraram mediar antes do escândalo rebentar? Não poderiam ter evitado a suspensão do diretor a quem tinham atribuído uma insígnia municipal?

São também maus exemplos como este que minam a confiança na democracia. Certamente que este tipo de atitudes não está em consonância com o espírito democrático que os socialistas defendem. Má prenda para a memória de Mário Soares no 100º aniversário do seu nascimento.

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