Opinião

O mês de des-Maio, por Rafu

Rafu

O mês de Maio de 2025 concentrou em si uma avalanche de efemérides. Em apenas 31 dias tivemos uma possível final do campeonato português de futebol, o festival Eurovisão da Canção, o conclave para eleger o novo papa e ainda eleições legislativas. Parece que num dos maiores meses até à data já houve uma data de coisas.

Se uma pessoa fosse beber espumante para comemorar cada festividade acabaria o mês a espumar o fígado da boca para fora.

Ainda antes do mês, a 28 de Abril aconteceu um apagão na Península Ibérica, o que proporcionou um ótimo treino para sabermos como seria andar sem energia.

Ainda estávamos a recuperar do apagão ibérico quando levámos com um feriado que valeu por dois. O governo português tinha adiado as comemorações do 25 de Abril para o Dia do Trabalhador devido ao luto pelo papa, o que permitiu uma semana de trabalho de 3 dias regada a convívios em jardins e até a desafinações do primeiro-ministro com o Tony Carreira, como se o povo já não tivesse sofrido o suficiente.

Até mesmo a nível de datas comemorativas que ninguém comemora esteve o calendário cheio. Houve o dia da liberdade de imprensa a 3, o que calhou bem para jornalistas terem do que falar. Houve o dia da língua portuguesa no dia 5, ou não fosse a imprensa do país esquecer-se em que língua escrever.

Houve o dia da Europa a 9, o de Fátima a 13 e o da família a 15, o que deve ter dificultado o planeamento de viagens em família pela Europa até ao santuário de nossa senhora. Em qual dos dias acenderiam uma vela? No dia da Europa não honrariam o continente da santa, no dia 13 não seria um dia para a família e no dia 15 já não haveria comemorações especiais no santuário.

No dia 20 foi o dia da abelha e no dia 26 foi o do bombeiro. O que, parecendo que não, dá jeito se pensarmos como os bombeiros podem ter tido de lidar com as consequências da quantidade de acidentes que podem ter acontecido na tentativa de arranjar uma abelha com quem comemorar.

A 31 temos o dia mundial sem tabaco, o que calha bem tendo em conta que depois disto tudo precisamos respirar fundo. Infelizmente é a data mais difícil de cumprir devido a todo o stress causado pela azáfama do mês.

Se para organizadores de eventos deve ter sido complicado, com certeza não foi fácil para conversas de café; proporcionando o mês de Maio este tipo de interação:

– Viste o resultado?

– Então não vi, elegeram um papa americano.

– Não, eu estava a falar do resultado da final

– Ah, mas não foi a final, o Benfica e o Sporting empataram

– Eu estou a falar de quem ganhou na votação.

– Então já se sabe quem é o novo primeiro-ministro?

– Não, pior do isso, refiro-me à música que ganhou a Eurovisão.

Entre as legislativas, o conclave e a Eurovisão houve mais votações do que numa temporada de Big Brother, e com muitas mais transmissões em direto.

De 22 dias úteis de maio, uma pessoa que fosse festejar e acompanhar todas as datas comemorativas e todos os eventos do mês perderia pelo menos 10 dias: entre o feriado do Dia do Trabalhador, as celebrações das múltiplas efemérides mencionadas, o debate na rádio dos partidos com assento parlamentar no dia 5, o debate dos partidos sem assento parlamentar na TV no dia 6, o acompanhamento do conclave papal nos dias 7 e 8, as semi-finais da Eurovisão a 13 e 15 e a final a 17, o possível jogo decisivo Benfica-Sporting no dia 10, o voto antecipado no dia 11 e as eleições legislativas a 18 – sobrando apenas 12 dias úteis para efetivamente trabalhar. Uma pessoa fica cansada só de ler tudo do mês, imaginem viver.

No final do mês, quando tudo parece voltar à rotina diária lá vêm as romarias e festarolas dos santos populares. Esperemos que ninguém se lembre de eleger a melhor sardinha, ter um concurso de marchas e marcar um confronto entre manjericos rivais.

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