Loulé

Apresentação do livro “Na Grande China Por Minha Conta… Vivências Marcantes” de Doris Gabriela Ogrin

Igreja da Misericórdia de Loulé13 de maio de 2025

  • Apresentação da obra: Vanda de La Salete
  • Apresentação (apoio à leitura): Isabel Aresta
  • Acompanhamento Musical: Constance Bernard

Este livro fala das viagens à China realizadas por uma destemida austríaca com espírito universal. Sem rede, Doris embarcou de corpo e alma à descoberta de um país que quase todos ao seu redor consideravam inadequado para ser explorado por uma europeia. Verdade que na sua primeira viagem teve oportunidade de usufruir de uma espécie de orientação de uma amiga. Mas, da segunda vez, embarca na aventura sozinha, tendo visto reprovada a sua ideia por quase todos. Exceção foram o seu marido e os seus filhos que a apoiaram na descoberta do seu sonho. Depois de lutar contra muitas opiniões de protesto e reprovação, repleta de coragem diz:

Tudo bem, se ninguém tinha a coragem de me acompanhar, vou sozinha e ponto final!” (Página 169)

E porque sou eu que estou a apresentar este livro, e eu acredito em anjos, suspeito que também teve a grande proteção do seu anjo da guarda, o qual lhe deu muita força para ultrapassar todos os obstáculos.

Uma ideia…

Não preguei olho, estava muito excitada, mas feliz e também um pouco orgulhosa por ter conseguido sem grandes distúrbios passar sozinha uma semana numa cidade de 11 milhões de habitantes na China. Foi uma semana com muitos acontecimentos, com aventuras, perigos, com amizades, com raiva e frustração, mas também com gargalhadas.” (Página 160)

Atividade do Anjo…

Já estava exausta, quase a cair, mas sentia-me feliz por ter encontrado todas estas boas pessoas, tanto na China como na minha terra. A minha mãe diria: tu tiveste um anjo da guarda.” (Página 159)

Há uma coisa que eu não queria, de maneira nenhuma, esquecer em casa. Era o meu anjo de viagens, que é um Anjinho pequeno de madeira de cerca de 3 cm de altura que a minha mãe me ofereceu há muitos anos. Levo este Anjinho sempre comigo e, se mudo de mala, o Anjinho muda também.

Devia ter tido este anjo também na primeira viagem, talvez tivesse mais sorte, mas recebi o depois desse tempo.

– Este anjo vai dar-te sorte estejas onde estiveres. Palavras da minha mãe. Deus a ouça.” (Página 170-171)

Mas, tarde de mais. Já estava quase a caminho para lá. Seja como for, amanhã vou partir para Guilin. Anjo, ouviste, tens algo para resolver!” (Página 201)

Contudo, mais do que uma ou duas aventuras na China, Doris faz-nos uma fotorreportagem que fala por si. Todavia, na qualidade de linguista, e tendo conhecido a Doris no início do seu percurso de escritora em língua portuguesa, quero parabenizá-la, uma vez que utilizou determinadas figuras de estilo com uma mestria que suplantou as suas próprias fotografias.

Foi quase necessário deitar-me no chão para conseguir ver os topos dos edifícios.” (Hong Kong – Página 184)

E, se quiserem uma viagem recheada de aventura, é só falarem com a Doris. Sem planificação prévia, sair à porta de um edifício e tomar a direita em vez da esquerda ou vice-versa, é uma obra de coragem. E melhor que tudo isso era o destino a escrever-se nas linhas certas.

Que sortuda! Sem querer ou saber, escolhi o autocarro certo…” (Página 185)

Mas pensam que foi caso isolado?! Nada disso. O universo decidiu ajudar a nossa destemida Doris, ao longo de todas as suas viagens.

Outra prova, foi a descoberta acidental das maiores escadas rolantes do mundo.

Andei na escada rolante para cima e para baixo, de um andar para o outro, sem plano concreto e sem horas. Mas, de repente, oh, o que é isto? Há muito tempo queria encontrá-la, mas não tinha ainda acontecido. Também não conseguira saber em que parte da cidade se encontrava, por isso já me tinha esquecido de a visitar. E agora, que surpresa, ela estava mesmo à minha frente!

Estou a falar da escada rolante mais comprida do mundo! Olhando para estas escadas rolantes, pensei logo que não há mais nenhuma a não ser esta, a mais comprida do mundo.

Sem pensar duas vezes, pus os pés nos degraus e fui levada para cima. Entrava na segunda parte da escada e esta transportou-me para o céu. Foi mesmo o céu, o teto estava pintado de azul com estrelas douradas. Que sensação! Estar no céu, eu sozinha, sem mais ninguém à minha volta, depois, mas ninguém subiu.

Na íngreme descida, andei, como se me aproximasse devagarinho a uma garganta pronta para me engolir. Ainda bem que não sofro de vertigens, se não, caía pela garganta direitinha para o inferno.

Fiquei contente por ter encontrado por acaso mais uma das atrações da cidade de Hong-Kong.” (Páginas 271 e 272)

Porém, nem tudo foi um “mar de rosas” como abordado até agora. A nossa Doris também teve alguns dissabores nas suas viagens. Na sua primeira viagem deparou-se com uma amiga “sombria” (utilizando um adjetivo simpático), a qual de tudo fez para que a Doris seguisse outra trajetória. Mas… “A Haiyun pensava que se libertava de mim tão facilmente? Ela convidou-me com “todo o gosto” e ela vai ter que me levar até ao fim da viagem, como já referi. Ainda bem que não sabia das minhas reservas financeiras, assim cheguei a conhecer melhor o seu caráter.” (Página 23)

Mas a verdade é que estas viagens foram fortemente enriquecedoras no que se refere a aprendizagem de novos conceitos e de novas culturas e costumes, onde se pode constatar notoriamente a diferença entre o Oriente e o Ocidente.

Um deles foi o modo de servir o chá tão diferente do nosso…

Ai, que susto! Estremeci, quando senti passar um jato de qualquer líquido ao lado da minha cabeça, vindo pela retaguarda! O jato acertou exatamente na chávena de chá na mesa à minha frente. Mas de onde veio isto? Virei a cabeça e mal pude acreditar, que de 1 m atrás de mim, o empregado, segurando na mão uma chaleira de cobre com um regador comprido, acertar a esta distância com uma precisão espantosa na xícara na minha frente na mesa, não desperdiçando nem uma única gota de chá. Claro, que o empregado não ficou atrás de mim, enchendo todas as chávenas, ele pôs-se atrás de cada pessoa, a repetir este ritual. Só assistir a este espetáculo, foi uma aventura. Quantos litros de chá teriam sido desperdiçados, para treinar esta obra artística – pensei comigo mesmo.

O sabor do chá era incomparável, tinha um aroma tão agradável e doce! Não pude esconder o meu encanto, por isso achava que seria um motivo para interromper a conversa dos outros e perguntar que ervas continha este chá. Ao contrário da Haiyun, que não gostou da minha interrupção e da pergunta sobre as ervas, os empregados ficaram muito contentes pelo meu interesse e, na despedida, entregaram-me como oferta um saquinho com as ervas desse chá. Depois em casa usava apenas um pouco de cada vez, para as ter muito tempo e para me lembrar sempre desse jantar. Entre as folhas encontrei misturadas flores vermelhas e brancas, bolinhas de vários tamanhos e cores e algumas sementes pequeninas, mas qual a planta que lhe conferia o sabor adocicado é que não descobri, seria a feliz combinação de todas.” (Páginas 37 e 38)

Outro prende-se com os transportes. Era um universo mais agitado e populoso e o seu “modus operandi” chamou-me a atenção.

Os táxis: “Encontrámo-nos numa fila longa sem fim à vista. À frente do controlo de passaportes esperámos uma eternidade até finalmente chegar a nossa vez, pouco antes de os meus pés se enraizarem no chão e as minhas costas se terem partido. Passámos bem e rápido sem qualquer complicação no controlo e saímos para o exterior e aí começou a luta para arranjar um táxi. Havia 3 filas paralelas de táxis e cada cliente queria passar à frente do outro, empurravam se, gritavam e negociavam em voz alta. Quem não usou os cotovelos para se defender, ficou para trás. Se eu estivesse sozinha, nunca conseguiria um táxi, ficaria lá uns dias a tentar conseguir transporte da maneira habitual.” (Página 17)

Os autocarros: “Perguntando algumas vezes, cheguei à paragem certa para o autocarro com o número certo para chegar à TST. Entrei e fiquei surpreendida, pois não se pode comprar um bilhete assim como estamos habituados. Temos já de ter o montante certo na mão e pôr numa caixa que fica à entrada. Não há trocos. Ninguém tem tempo para isso. Eu ainda estava à procura de moedas quando o autocarro arrancou. Numa placa ao pé da caixa estava escrito o preço, um preço único. Também já não tive tempo de voltar para trás e pagar, porque atrás de mim ainda entraram algumas pessoas que me empurravam para frente, porque pensavam que já tinha pago. Pronto, avancei, o pagamento tinha de ficar para a próxima.

É preciso ser rápido a subir para o primeiro andar, para conseguir um lugar à janela nos primeiros bancos em frente. Tive sorte, consegui o primeiro lugar mesmo à frente por cima do condutor e, dali de cima tinha a sensação de estar a voar sobre a rua. Tinha vista panorâmica sobre toda a larga Nathan Road o seu trânsito denso. Circulavam colunas em 3 faixas para um lado e sentido contrário para outro lado. Parecia que um carro estava pegado ao outro. Às vezes parava de respirar, à espera de um estoiro, um choque, porque andavam tão perto, quase um em cima do outro faltando mesmo só milímetros para se tocarem. Fiquei impressionada com a habilidade, mas principalmente com a calma dos condutores.” (Páginas 183 e 184)

Mas como o melhor será mesmo lerem este livro para poderem entrar nesta aventura, deixo-vos aqui um breve excerto para vos abrir o apetite, pela leitura da nossa amiga Isabel Aresta.

Gruta de Ludi Yan, Flauta de Cana (Páginas 213 a 216)

Vanda de La Salete

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