
Em Portugal vemos sempre casarões no meio do nada quando só queríamos ter uma casinha no meio de tudo.
Há sempre um enorme bloco arquitetónico rodeado com enorme jardim ou quintal em qualquer vila ou aldeia no meio do caminho duma viagem de férias. O fumo está para o fogo como as terrinhas estão para os casarões: não existe um sem o outro e tudo acontece no meio do mato.
O senso comum diz que ninguém quer ir viver para o meio de matagal, mas a existência do casarão prova que a falta de senso nunca impediu que coisas existam.
É algo tão tipicamente português quanto as bolas de berlim, um cafezinho, o desenrascanço ou a churrascada em frente ao Jamor na final da taça, e com igual nível de exagero… mas com muito menos gente.
Aliás, é raro vermos gente a habitar nessas humildes residências de 3 andares, 10 divisões e piscina. Vemos mais vida em toda a natureza à volta. Deve ser incomodativo até para qualquer raposa ou javali menos informado que anda na sua vida e tropeça numa mansão selvagem. Pior ainda sabendo que qualquer tentativa de domesticar a criatura esbarra em imbróglios de heranças, direito à propriedade de férias ou qualquer outro trâmite legal que permita estar ao abandono. É mais fácil domar javalis, há menos sujeira.
Em Portugal há 723 mil casas vazias. O único lugar com mais espaço vazio é a carteira de um português.
Ainda assim, durante a campanha eleitoral, Rui Rocha disse que a solução para a habitação era “construir, construir, construir”, resta saber quem vai ter, ter, ter dinheiro, dinheiro, dinheiro para lá viver, viver, viver.
Os preços das casas aumentaram mais de 16% no primeiro trimestre de 2025 batendo recordes; estão tão altos que uma pessoa procura um T1 e no máximo consegue uma A4.
Até mesmo o preço das rendas sofreu uma subida de 10%. Atualmente, cada vez mais, o máximo de rendas que se consegue pagar são cuecas.
Perante a crise da habitação do país, a Comissão Europeia recomendou o controlo de rendas ou a imposição de limites ao alojamento local. Já o governo local parece recomendar que a Comissão Europeia se meta na sua vida.
Antigamente os jovens lutavam para conseguir sair de casa, hoje em dia lutam para tentar entrar numa.
Entende-se assim porque os jovens se preocupam cada vez mais com a natureza, porque, tendo em conta os preços das casas, a natureza é o único sítio para onde podem ir viver.
No futuro talvez vejamos menos casarões sem gente no meio do mato e mais mato com gente que não tem casa.
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