Opinião

A greve é grave ou querem que faça um desenho?

Rafu

No dia 5 de Dezembro o primeiro-ministro, Luís Montenegro, decidiu comentar um episódio de uma série de animação chamada Sex Symbols. Disse lamentar “profundamente que o programa tenha sido emitido nos termos em que foi”. O povo até tenta deixar o Luís trabalhar, mas pelos vistos ele está mais preocupado em ver desenhos animados.

Nesse mesmo dia ele afirmou que não sabia a razão para alguém querer fazer uma greve geral; isto no mesmo dia em que soube todas as razões porque para ele um desenho animado é mau.

A greve geral aconteceu a 11 de Dezembro, mas não sem ter previamente gerado reações de vários partidos:

A IL mostrou-se preocupada que pessoas pudessem estar “a impedir outras de trabalhar” por causa da greve, até porque se as pessoas não estiverem a trabalhar não podem ser despedidas mais facilmente sem justificações, tal como indicado no novo pacote laboral. De repente parece que não basta uma mão invisível para manter o mercado.

Esta reação seria expectável tendo em conta que já em Junho o PSD e a IL afirmavam que queriam mudar a lei da greve com a desculpa da possível paralisação dos transportes. Percebe-se porquê, afinal, as greves dos transportes públicos incomodam muito quem não anda de transportes públicos.

Por volta desta mesma altura Luís Montenegro afirmava que “o direito à greve não está em causa, mas não pode ser tão desproporcional que os outros cidadãos são limitados nos seus direitos”, como quem diz: não sou contra as greves, mas se calhar paravam de a fazer.

Já para André Ventura a greve geral não fazia sentido, pelo menos até fazer, para depois voltar a não ter benefícios, para depois ser completamente legítima. A 9 de Novembro disse que “não precisamos de greves gerais em Portugal…é um erro que só a extrema-esquerda…conseguem ver algum benefício”. Já no dia da greve disse que “é legítimo os sindicatos avançarem para a greve e há razões para um descontentamento generalizado e têm razão.” A 7 de Novembro dizia que fazia mais sentido haver “mais contratos a termo e que temos é que ter mais emprego” mesmo que a esquerda diga que causa precariedade. Já no dia 11 de Dezembro disse que avisou o governo que o novo pacote laboral ia causar precariedade. Dá a sensação de que se o André Ventura mudasse tantas vezes de cuecas como muda de opiniões, seria o principal cliente da Calvin Klein.

Faz sentido que o André Ventura afirme ser um homem de convicções, até porque parece que em cada dia tem uma diferente.

Com tanta reação negativa já se esperava uma forte reação no grande dia. O governo prontamente veio a público dizer que a greve geral foi irrisória, sendo que relatos apontam para um prejuízo de 793 milhões de euros. O governo afirmou que a adesão foi de 0 a 10%, já os sindicatos apontam para uma adesão superior a 80%. Em que números podemos confiar? Afinal a greve teve sucesso? De facto, havia razões para preocupação? Se nem o Luís Montenegro sabe a razão da greve, como saberá como evitar mais?

Tendo em conta que o primeiro-ministro fica mais indignado com desenhos animados, eu proponho que alguém meta uma grávida a dar à luz no carro do Noddy que acabou de ser despedido do quarto emprego sem justificação, só para ver se ele se começa a importar com isso.

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