Opinião

Artigo de opinião de Nelson Serrano Marçal, Pneumologista | DPOC: Agarrar a vida

Dr. Nélson Marçal

Dr. Nélson Marçal

Apesar de a doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC) ser uma doença ainda pouco divulgada junto da população geral (habitualmente denominada por enfisema ou bronquite), tem vindo a ter cada vez mais atenção nas últimas décadas por ser importante causa de perda de qualidade de vida e mesmo de mortalidade. Segundo dados recentes, esta doença afeta cerca de 14,2% dos portugueses com mais de 40 anos e será em 2020 a 3.ª principal causa de morte.

A DPOC caracteriza-se por um envelhecimento precoce e acelerado dos pulmões, fruto do estilo de vida que levamos, e traduz-se num estreitamento dos brônquios e destruição dos alvéolos pulmonares. Como está intimamente relacionada com o consumo de tabaco e a exposição a poeiras tóxicas, significa que se trata portanto de uma doença prevenível!

Apesar de muitas vezes se relacionar a DPOC com queixas de tosse (o conhecido catarro matinal dos fumadores) e pieira (o chiar dos pulmões), a principal manifestação desta doença é a falta de ar e o cansaço nas atividades do dia-a-dia. Contudo, como estas queixas se instalam de forma progressiva muitas pessoas não se dão conta e o que se verifica é a gradual diminuição do esforço físico, ou seja, quem sofre de DPOC passa a evitar subir escadas ou planos inclinados e sente um maior cansaço no seu dia-a-dia.

Felizmente, a medicina tem evoluído nos últimos anos e temos hoje à nossa disposição vários medicamentos para o tratamento desta doença. Primeiro é preciso reconhecê-la e para isso tem de dizer ao seu médico se se sente cansado e este tem de confirmar o diagnóstico com a realização de uma prova de função respiratória (exame que consiste apenas em soprar para um tubo). Independentemente de ter a doença ou não, se fumar, deve repensar este hábito que não só é economicamente dispendioso como traz com ele uma factura pesada para a saúde que demora 20 a 30 anos a chegar. Esta é a medida mais eficaz e reconhecida para impedir o agravamento da doença respiratória e traz ainda benefícios para a pele, boca e coração.

Os medicamentos usados para tratar a DPOC são em regra inalados (as conhecidas “bombinhas”), servem para dilatar os brônquios (broncodilatadores) e tal como o próprio nome da doença (crónica) indica são para fazer sempre. Estes são no geral fármacos bem tolerados e convém aqui desmistificar alguns receios associados à sua toma: por serem inalados, vão atingir preferencialmente o pulmão o que evita efeitos a nível do restante organismo; o seu uso não traz efeitos negativos sobre o coração. O que faz sofrer o coração é a falta de ar e o cansaço provocados pela DPOC; ninguém fica viciado nas “bombas”. A melhoria da qualidade de vida associada ao uso dos broncodilatadores não faz ter saudades do passado.

Ao facilitarem o esvaziamento do ar dos pulmões, os broncodilatadores vão conduzir à diminuição do cansaço e falta de ar, previnem períodos de agudização dos sintomas (exacerbações), previnem a progressão da doença e reduzem a mortalidade. Como a sua administração não é tão simples como engolir um comprimido, esta terapêutica requer que o seu médico verifique a técnica inalatória.

Paralelamente à terapêutica farmacológica é importante atender a outros aspetos. A toma da vacina da gripe todos os anos e a vacina contra as pneumonias são fundamentais. É igualmente importante uma nutrição adequada que deve ser hiperproteica para assegurar a função muscular respiratória e baixa em hidratos de carbono para evitar a formação de dióxido de carbono. Por último, a prática de exercício físico aeróbico deve ser sempre incentivada propondo-se como mínimo uma caminhada diária de 30 minutos. Em fases de maior agudização ou de progressão de doença o exercício físico deve ser integrado num programa de reabilitação respiratória para se obter maiores benefícios.

Resumindo, apesar de evitável e tratável, a DPOC não é curável e para ser bem sucedido deve parar de fumar, evitar poeiras e fumos, cumprir a medicação, proteger-se de constipações, gripes e pneumonias, cuidar da sua alimentação e praticar exercício físico regular. A nossa vida é um rastilho que se acende quando nascemos pelo que não o devemos queimar mais depressa. Nada substitui um estilo de vida mais saudável.

Para promover a interação e partilha de experiências entre pessoas com Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica pode consultar, no facebook, a campanha “Agarrar a Vida”, disponível em https://www.facebook.com/DPOCAgarrarAVida A campanha tem ainda um website com informação sobre a doença, disponível em http://www.dpocagarraravida.pt/.

Categorias:Opinião, Saúde

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