Quarteira

Caminheiros Algarvios partilharam experiências em Quarteira

No âmbito de “Loulé Cidade Europeia do Desporto 2015”, teve lugar ontem, dia 6 de dezembro, a Tertúlia “Estórias dos Caminheiros Algarvios”, que decorreu no Centro Autárquico de Quarteira.

Uma iniciativa que contou com a presença do presidente da Câmara Municipal de Loulé, Vítor Aleixo, do vice-presidente Hugo Nunes e dos caminhantes Marco Pereira (moderador do debate), Deni Vargues, António “Tonico” Fernandes, Eurico Lopes, Peregrino Algarvio, Fernando Meireles, Angelo Martins “Venezuelano”, Cláudia Martins e Gonçalo Mérem, os quais, através de diversas fotografias, evocaram as estórias, as afetividades, as alegrias, os momentos difíceis, os desafios, os obstáculos e as pegadas que, quilómetro a quilómetro, conduziram a momentos de sacrifício e superação humana.

Para Vítor Aleixo, “as caminhadas são um importante contributo para a saúde física e mental”, realçando o sacrifício nas peregrinações.

Marco Pereira (Quarteira) admitiu que “nunca fui grande desportista mas em 2014 decidi tentar fazer uma caminhada, uma coisa louca”, tendo ido de Quarteira a Fátima a pé, num percurso de 400Km. Desde aí, tem percorrido centenas de quilómetros nas caminhadas regionais.

Deni Vargues (natural da Austrália e radicado em Benafim), confessou que tem “dificuldade em caminhar sozinho”, tendo chegado ao ponto de desenhar, nos bastões, o Tico e o Teco para ter com quem falasse ao longo do caminho.

Eurico Lopes (Vale Judeu), mais conhecido pelo ‘enfermeiro dos escalfadinhos’, visivelmente emocionado, confessou que decidiu tornar-se caminhante “para ir à minha procura”. A sua primeira caminhada foi pelo Caminho de Santiago, em 2014, na companhia do seu amigo Luís Dimas “Badinhas”, tendo percorrido 270Km de uma vez.

O Peregrino Algarvio (José Júlio de Brito, natural de Tavira e residente em VRSA) começou por referir que já percorreu mais de 5500Km em peregrinações, para além das caminhadas regionais. Revelou ainda que, em 2010, ficou conhecido em Espanha por ‘Peregrino Algarvio’, motivo que o levou a registar a marca. Considera-se um “peregrino solitário” e optou pelas peregrinações porque “deixei de saber quem era e fui à procura de mim próprio e para me tornar uma melhor pessoa”, acrescentando que os peregrinos são conhecidos por “loucos” no Algarve, “corajosos” no Alentejo e “peregrinos” no Norte. Nunca desiste. É habitual encontrar-se “muito mau fisicamente mas muito forte psiquicamente. O sacrifício é enorme mas a motivação muito forte”.

Referiu ainda que “fui deixando marcas e comecei a ser uma referência nos locais por onde tenho passado”. Entre as suas maiores peregrinações, destaca “Portugal a pé e de VRSA a Sagres e daí a Santiago de Compostela”, frisando que “gosto mais de trilhos pelos bosques porque aprecio muito a Natureza”.

Sublinha que “os limites somos nós que os temos cá dentro. Tudo é superável. Depende de nós próprios”. No seu caso, “ando numa luta constante comigo próprio para me tornar uma pessoa melhor. As caminhadas tornam-me mais aberto aos outros e mais dedicado às causas”.

Cláudia Martins (Enfermeira no Centro de Saúde de Quarteira) estreou-se este ano nas caminhadas, na companhia da sua colega Sara Zorrinha, inseridas num grupo de escuteiros com os seus filhos. “Fomos de avião até ao Porto, de comboio até Valência do Minho e, a partir daí, foram 120Km a pé até Santiago de Compostela. Por ser muito complicado caminhar sozinho mas num grupo numeroso também é, ainda mais se incluir crianças. Como eu e a Sara somos enfermeiras, íamos ficando para trás para tratar das bolhas dos pés dos que se atrasavam. Lá na frente, pensavam que era por andarmos a tirar fotografias. No caminho, comprámos agulhas e linhas para cozer as bolhas, depois de as drenarmos. Chegámos à conclusão que esse era o melhor processo para as tratarmos”.

Fernando Meireles (natural de Bragança radicado em Faro) revelou que, aos cinco anos de idade, os pais mudaram-se para Lisboa e “assustei-me com a dimensão da cidade. Dizia então que ia para Bragança, nem que fosse a pé. Essa ideia sempre me acompanhou e foi amadurecendo. 35 anos depois, já a residir em Faro, queria fazer uma introspeção e optei pela caminhada. É um ato solitário e quando vemos alguém, uma alegria muito grande e ficamos despojados de quaisquer preconceitos. Vamos à procura de paz e amor, coisas que esta vida agitada nos faz por de parte. Então, passamos a ver em vez de olhar, duas coisas completamente diferentes”, acrescentando que se considera “um concretizador de sonhos e até hoje tenho-os concretizado todos. Esta caminhada demorou 35 anos a acontecer mas aconteceu, ligando Faro a Bragança”.

O jovem escuteiro Gonçalo Mérem, filho da enfermeira Cláudia Martins, também deixou o testemunho da sua primeira caminhada, 120Km entre Valência do Minho e Santiago de Compostela: “Não tive dificuldades”, começou por dizer. “Eu ia sempre à frente e a minha mãe ia sempre atrás.  Nos últimos dias, reparei que não tinha tirado nenhuma foto com ela e deixei-me ficar para trás. Aí é que eu vi que elas (as enfermeiras Cláudia e Sara) não ficavam para trás para tirar fotografias mas sim para socorrer quem ficava com bolhas. Só ao fim de 15 dias é que tive bolhas mas gostei e nunca pensei em desistir. O meu objetivo era passar bons tempos com os amigos”. Não obstante, “o dia dos 31Km (a jornada mais longa) correu um pouco mal”. O jovem Gonçalo sublinha que “foi fácil gerir os adultos. Aturá-los foi mais difícil. Voltaria a fazer esta peregrinação mas também com o meu pai”, concluiu.

Angelo Martins, mais conhecido por ‘Angelo Venezuelano’, natural da Venezuela a residir em Quarteira, também se assume como “um caminhante solitário, sem medo porque conheço os meus limites e sei até onde posso ir”. Já fez mais de 5000Km em caminhadas, entre as quais destaca “a Rota da Córsega (ilha de França, a 4.ª maior do Mediterrâneo), considerada a mais difícil e mais longa da Europa, com 180Km. No primeiro ano, não consegui concluí-la e voltei a tentar outra vez. A Rota está prevista para 15 etapas e eu fi-la em 14, o que me deixou muito feliz”. Para si, as caminhadas são “um repto pessoal. É só trabalho e mais trabalho e quando damos conta, o tempo passou. As caminhadas são uma realização pessoal mas também partilhar vivências para que as pessoas vejam que são capazes”.

Tonico Fernandes (natural do Ameixial) é considerado o maior caminhante do Concelho de Loulé e também fiz o Caminho de Santiago: “Por viver no Ameixial, sempre tive muito apego à Natureza e é por isso que faço caminhadas. Gerimos mal o tempo  da nossa vida e as caminhadas ensinam-nos a gerir melhor o tempo. Tal como foi dito aqui, temos que nos encontrar a nós próprios e caminhar  é o melhor método”. Colaborador na organização do Waking Festival do Ameixial, refere que esta caminhada “foi criada num sítio espetacular”.

A fechar a conversa com os caminhantes, Vítor Aleixo fez um balanço muito positivo: “Gostei muito de ouvir estas partilhas. Achei interessantíssimo ouvir estas experiências riquíssimas”.

Por: Jorge Matos Dias / PlanetAlgarve

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