Depois do deputado João Vasconcelos, eleito pelo Bloco de Esquerda no Algarve, ter visitado, juntamente com dirigentes bloquistas da concelhia local, a zona ribeirinha de Olhão onde se verificou a remoção e deposição de lamas, o Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda questionou o governo sobre o assunto.

Como se sabe, em setembro de 2016 foi lançado um concurso público pela Docapesca Portos e Lotas S. A. para a concessão do porto de recreio de Olhão, inserido no Parque Natural da Ria Formosa, o qual foi ganho pela firma “Verbos do Cais”, curiosamente constituída em dezembro do mesmo ano.
De acordo com o PDM de Olhão e do parecer sobre o Estudo de Impacto Ambiental, da parte do ministério do Ambiente, em agosto de 1999, está previsto que a zona da Doca de Recreio de Olhão contemple, entre outras funcionalidades, um espaço para estacionamento de embarcações de pesca artesanal. Como se sabe, o Regulamento do Porto de Recreio de Olhão através do Edital n.º 452/2018 e publicado no Diário da República, 2.ª série, n.º 87, de 7 de maio de 2018, o seu objeto não contempla qualquer zona para estacionamento de embarcações de pesca artesanal.
Recentemente, a “Verbos do Cais” com recurso a uma retroescavadora procedeu à remoção de lamas e limpeza na zona ribeirinha junto ao denominado Cais T, quase em frente à capitania do porto de Olhão e sem que houvesse qualquer placa a identificar o dono da obra e a respetiva autorização. Esta intervenção levou à construção de uma rampa em pedras lançadas à ria Formosa, com cobertura de entulho diverso. Sucede que há cerca de 2 anos atrás os mariscadores foram alvo de coimas pesadas por parte da fiscalização do Parque por terem colocado sacos com entulho e outros detritos à volta dos viveiros a fim de proteger as criações das tempestades.
Nessa intervenção foram retiradas cerca de 800 toneladas de lamas potencialmente contaminadas, as quais foram transportadas por camiões e depositadas numa vala aberta junto do local onde decorrem as obras das futuras infraestruturas do Porto de Recreio de Olhão. Segundo o plano plurianual de dragagens, conforme prevê o Estudo de Impacto Ambiental do porto de recreio, terá de haver cuidados especiais para a retirada de lamas (classes dois e três), não podendo as mesmas ser lançadas a menos de 4 milhas da costa e a menos de 30 metros de profundidade.
É um facto que, não obstante a construção da nova ETAR Faro/Olhão, a qualidade da água na zona ribeirinha de Olhão tem muito a desejar, pois são bem nítidos ainda os esgotos urbanos e industriais que desaguam para a ria, o que muito contribui para a contaminação das águas e lamas da zona.
Sabe-se que o Parque Natural da Ria Formosa mandou embargar as obras de remoção das lamas, alegando que o pedido de autorização tinha sido desfavorável pelo facto do promotor não ter apresentado o estudo de incidências ambientais, dizendo por sua vez o promotor que tinham sido pedidas todas as autorizações devidas. Entretanto o promotor mandou retirar a rampa e o entulho do local.
Segundo o exposto e conforme se disse, o Grupo Parlamentar do BE (através dos deputados João Vasconcelos, Nelson Peralta e Ricardo Vicente), dirigiram ao governo um conjunto de perguntas, através dos ministérios do Ambiente e da Ação Climática e do Mar. Essas perguntas foram as seguintes:
- A zona de onde foram retiradas as lamas e outros materiais faz parte da concessão gerida pela firma “Verbos do Cais”
- Se essa zona não faz parte da concessão, a que título levou a que a “Verbos do Cais” fizesse tal intervenção?
- A zona de estacionamento destinada a embarcações de pesca artesanal é para manter ou existem outras finalidades para a mesma?
- A “Verbos do Cais” pediu todas as autorizações consideradas necessárias para a intervenção no local?
- Que autorizações foram essas e quem as autorizou ou recusou?
- Que motivos levaram a que o Parque Natural da Ria Formosa mandasse embargar as obras de remoção das lamas?
- Foi cumprida a legislação específica para a remoção das lamas do local e a sua posterior deposição a menos de 4 milhas da costa e a menos de 30 metros de profundidade?
- Quem assume a responsabilidade e quais as consequências para o incumprimento dessa legislação específica relativamente aos trabalhos referidos?
- Tem o Governo conhecimento de algum projeto para acabar com os esgotos urbanos e industriais que são despejados na zona ribeirinha de Olhão?
- Se esses projetos não existirem qual a solução para terminar com esses esgotos a céu aberto que continuam a contaminar a zona?
Bloco de Esquerda Algarve
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