Saúde

O regresso à vida do embrião: Aprofundamento de estudo de Inteligência Artificial revela aplicações promissoras

10.º Congresso Internacional IVIRMA, Medicina Reprodutiva 

  • Os embriões que conduzem a uma gravidez evolutiva começam a sua expansão, em média, cerca de 50 minutos após serem descongelados. O comportamento dos embriões durante os primeiros momentos de regresso à vida ajuda a identificar quais os que têm até mais 30% de hipóteses de levar a uma gravidez. 
  • O estudo fornece valores quantitativos objetivos para as variáveis envolvidas na reexpansão do blastocisto, ao contrário da avaliação morfológica subjetiva, utilizada até o momento. 

Nos últimos anos, avaliações embrionárias que utilizam um sistema de lapso de tempo têm proporcionado uma compreensão mais precisa do desenvolvimento embrionário, identificando diferentes parâmetros morfocinéticos como marcadores de viabilidade dos embriões, o que têm servido para definir modelos complementares de seleção. No entanto, após procedimentos de vitrificação (congelação) e desvio, os blastocistos sofrem múltiplas alterações morfológicas que podem dificultar a avaliação da sua qualidade. Além disso, pouco se sabia, até agora, sobre a aplicação desta tecnologia aos blastocistos vitrificados e desviados. 

É neste contexto que surge o estudo Analysis of the morphological dynamics of blastocysts after vitrification/warming: defining new predictive variables of implantation – liderado pelo médico Marcos Meseguer, supervisor científico do IVI e especialista em embriologia do IVI Valencia – apresentado no 10.º Congresso Internacional IVIRMA. 

“Avaliámos a dinâmica pós-desvitrificação de embriões para prever o potencial de implantação de blastocistos desviados através do uso de Redes Neurais Artificiais (RNA) baseada em Inteligência Artificial (IA). Neste sentido, estamos a trabalhar num algoritmo de IA que estuda o comportamento do embrião desde a sua desvitrificação até à sua transferência, que dura aproximadamente quatro horas. A IA mostra-nos que um embrião que se expande mais cedo (o tempo médio é de 50 minutos) pode ter até mais 30% de hipóteses de conduzir a uma gravidez. A IA permite-nos, assim, identificar embriões que apesar de apresentarem boa morfologia têm uma baixa probabilidade de se implantarem porque, quando desviados, demoraram muito tempo a expandir-se ou expandiram-se muito pouco”, explica o Dr. Meseguer. 

A análise retrospetiva partiu de uma amostra de 511 blastocistos desviados, cujo principal objetivo era descrever as variáveis envolvidas na dinâmica morfológica dos blastocistos vitrificados e subsequentemente desviados durante o período entre a devitrificação e a transferência embrionária, na tentativa de compreender melhor o procedimento de reexpansão embrionária. 

“Quando vitrificamos o embrião, deixamo-lo em estado inerte, retirando a água, que é o que faz mover toda a ‘maquinaria’ da célula. É como se o tempo parasse. O embrião pode permanecer assim por anos sem que o tempo afete a sua qualidade. Quando queremos reativar o embrião, voltamos a colocar a água, que vai entrando pouco a pouco. E este foi o ponto de partida do nosso trabalho: o embrião em que a água começa a entrar mais cedo apresenta um melhor prognóstico. Isto leva-nos a correlacionar a reexpansão dos blastocistos desviados com as suas possibilidades de implantação. Assim, e com a ajuda da IA, obtivemos uma taxa de êxito de mais de 60% nos blastocistos reexpandidos implantados, em comparação com 6% daqueles que não se expandiram tão rapidamente após a desvitrificação”, diz o Dr. Meseguer. 

A cultura embrionária prolongada e a transferência de blastocisto são hoje uma prática comum, o que tem demonstrado uma melhoria na seleção de embriões e, portanto, nas taxas de sucesso dos tratamentos reprodutivos. Esta estratégia envolve a criopreservação de todos os blastocistos viáveis e a sua transferência em ciclos subsequentes, evitando o risco de hiperestimulação ovárica.  

Este aumento crescente nos ciclos de transferência diferidos levou ao desenvolvimento de critérios de seleção cada vez mais precisos para melhorar os resultados das transferências de blastocisto vitrificado. 

“A monitorização de blastocistos desviados, usando sistemas de lapso de tempo, pode fornecer informações valiosas sobre seu potencial de implantação, desde que permaneçam num ambiente estável e controlado. Todos os blastocistos foram vitrificados e desviados usando o método Cryotop, e foram colocados no EmbryoScope imediatamente após a devitrificação até serem transferidos. Outro elemento diferencial do nosso trabalho aponta para o facto de fornecer valores quantitativos objetivos para as variáveis envolvidas na reexpansão do blastocisto, ao contrário da avaliação morfológica subjetiva que tem sido utilizada até agora para a reexpansão do blastocisto“, esclarece o Dr. Meseguer. 

“O estudo permite concluir que a análise por IA da dinâmica dos blastocistos vitrificados e desviados pode ser útil para prever o potencial de implantação, o que significa uma grande mais-valia na prática clínica”, como refere o Dr. João Calheiros, médico ginecologista do IVI Faro. De acordo com o especialista, “o uso de modelos preditivos em ciclos vitrificados pode evitar a transferência de embriões vitrificados com baixa taxa de sucesso. No entanto, sublinha que as correlações observadas e o algoritmo proposto devem ser validados num ensaio prospetivo para avaliar a eficácia“.  

Sobre o 10.º Congresso Internacional IVIRMA 

10.º Congresso Internacional IVIRMA de Reprodução Assistida, que reúne os principais pesquisadores mundiais do setor, decorreu entre os dias 20 e 22 de abril. Este evento apresenta os avanços alcançados no campo da Medicina Reprodutiva, as técnicas mais inovadoras e os resultados das mais recentes pesquisas. Além disso, serve como ponto de encontro para compartilhar as melhores práticas para melhorar os resultados desta atividade no dia a dia. O Congresso, cuja décimaedição se realizou este ano em Málaga, Espanha, reuniu mais  de 1.200 especialistas de 57 países e realiza-se de dois em dois anos.  

Sobre a IVIRMA Global 

O IVI nasceu em 1990 como a primeira instituição médica em Espanha especializada inteiramente em reprodução humana. Desde então, ajudou a dar à luz mais de 250.000 crianças, graças à aplicação das mais recentes tecnologias. No início de 2017, o IVI fundiu-se com a RMA, tornando-se o maior grupo de reprodução assistida do mundo. Até à data tem cerca de 80 clínicas e 7 centros de investigação, em 9 países e é líder em medicina reprodutiva.
www.ivi.pt – www.rmanetwork.com

Categorias:Saúde