As Festas do Povo, em Campo Maior, são um dos eventos de maior notoriedade do país. De 4 em 4 anos, a vila transforma-se num autêntico jardim de flores de papel fruto de um gigantesco movimento de voluntariado das suas gentes. Este ano, realizam-se entre os dias 22 e 30 de agosto. Para conhecermos melhor as Festas do Povo, o PlanetAlgarve deslocou-se àquela vila alentejana, tendo convidado Jorge Guerreiro para nos acompanhar, conhecedor daquela vila, devido às suas ligações familiares a Campo Maior. Desta deslocação, resultaram três entrevistas: Ao presidente da Câmara Municipal de Campo Maior, Ricardo Pinheiro, ao presidente da Associação das Festas do Povo, João Rosinha e ao destacado judoca campomaiorense da Seleção Nacional de Judo, Natalino Borrega. Nesta segunda parte, apresentamos a entrevista com João Rosinha.
Entrevista conduzida por: Jorge Matos Dias
- João Rosinha entrevistado por Jorge Matos Dias
- João Rosinha e Jorge Guerreiro
- João Rosinha
PlanetAlgarve (PA) – Como surgiu a Associação das Festas do Povo de Campo Maior?
João Rosinha (JR) – Esta Associação foi criada em 1994. Anteriormente, era a câmara municipal que organizava as Festas do Povo, nomeando uma Comissão. Entretanto, este evento começou a ter uma dimensão que já não permitia um trabalho muito amador, como era o caso das Comissões e foi criada esta associação em 1994.
PA – Qual a origem destas festas?
JR – Estas festas remontam ao Século XIX, mais propriamente ao final, 1893, segundo os registos que existem, em homenagem a S. João Baptista.
PA – Para além da organização, as Festas do Povo envolvem praticamente toda a população…
JR – Exatamente. É isso mesmo. Aliás, nós costumamos dizer que, a nível de voluntariado, este deve ser um dos maiores eventos, não só a nível nacional como mesmo internacional. Envolve, como disse, a população quase toda. E depois é toda a estrutura, tanto da associação como da câmara municipal, que implica uma logística monstruosa. É uma vila com cerca de 9 mil habitantes e, quando recebemos 1 milhão de visitantes em 9 dias, há que criar uma estrutura de apoio a toda essa gente, o que dá muito trabalho. Implica uma serie de vertentes, como a restauração, apoio médico, sanitários, é toda uma panóplia de situações, o que nos levou a que, já há alguns anos, criarmos, dentro da associação, grupos de trabalho específicos para cada uma das áreas, e que tem corrido bem. 2011 foi mesmo o ano em que as coisas correram excecionalmente bem. Agora, vamos tentar com que, pelo menos, corra da mesma maneira.
PA – Tem sido possível realizar as Festas do Povo de 4 em 4 anos?
JR – Nós tentamos que seja de 4 em 4 anos mas estas festas fazem-se quando o povo de Campo Maior decide. Já houve interregnos maiores e outros mesmo menores. Por exemplo, fez-se em 1998, por causa da Expo’98, em Lisboa, depois fez-se em 2000, com a viragem do Milénio. Voltaram-se a fazer em 2004 e, depois, tivemos um interregno de 7 anos em que não se conseguiram fazer as festas. Depois, em 2011, voltaram-se a fazer com todo o brio.
PA – O Orçamento tem vindo sempre a crescer. Este ano, atingirá uma verba de que ordem?
JR – Este ano, à semelhança de 2011, irá ser também de uma verba na ordem de 1 milhão de Euros, dos quais, 50% estão diretamente relacionados com a decoração da vila.
PA – Qual é a origem das verbas?
JR – Vem de verbas próprias que a associação consegue angariar com o aluguer de espaços, com parques de estacionamento, patrocínios, donativos, publicidade e depois alguns financiamentos das entidades oficiais: O Turismo de Portugal, a Região de Turismo do Alentejo, Fundos Comunitários, a Câmara Municipal de Campo Maior e outros. Aliás, este evento já ganhou o 1.º prémio do Turismo de Portugal na categoria de Eventos.
PA – Portanto, estamos a falar de um evento já muito conceituado, não só a nível nacional como a nível internacional. Apesar de todas as dificuldades, de alguma irregularidade na sua periodicidade, é para continuar…
JR – Exatamente. O povo está sempre disposto a isso. No Centro Histórico da vila, temos algumas dificuldades que vamos sempre tentando ultrapassar com o apoio da câmara e depois temos a questão da Candidatura a Património Imaterial da Humanidade, que está a decorrer, está muito bem encaminhada e está a ser muito bem conduzida. Essa candidatura, a ser aceite, obrigar-nos-á, no futuro, a repensar as Festas do Povo.
PA – O que diria às pessoas que ainda cá não vieram para virem ver as Festas do Povo?
JR – Àquelas que já cá vieram, não preciso de dizer nada. Neste momento, já sabem as datas e voltarão cá de certeza. As outras que ainda cá não vieram, estão a perder, de facto, o maior espetáculo do mundo em termos de flores de papel. É praticamente uma vila inteira engalanada com ruas lindíssimas e as pessoas que cá vêm voltam sempre para ver as Festas do Povo.
PA – Devido à proximidade de Espanha, imagino que o número de visitantes espanhóis seja muito elevado…
JR – Sim, têm vindo sempre muitos estrangeiros às Festas do Povo e em 2011 batemos o recorde nesse particular porque estiveram aqui mais de 250 mil visitantes estrangeiros, maioritariamente espanhóis. Em termos de estrangeiros, será uma percentagem na ordem dos 30% dos visitantes e estamos convencidos que em 2015 esse número irá ser ultrapassado.
SOBRE AS FESTAS DO POVO DE CAMPO MAIOR
A origem destas festas tem por base o culto a S. João Baptista, constituído padroeiro de Campo Maior desde o século XVI.
As comemorações em honra do Precursor de Cristo começaram-se a realizar no século XVIII, tendo por base o agradecimento ao santo por ter protegido e salvo Campo Maior nas aflições de um cerco por tropas invasoras, na eminência de invasão e assalto à povoação, no contexto da Guerra da Sucessão Espanhola (1702-1714).
A tradição de decorar as ruas começou no ano 1909, ano que marcou o início das Festas do Povo.
As Festas do Povo consistem na decoração das ruas de Campo Maior, sobretudo o Centro Histórico, com flores de papel e outros objetos em cartão e papel, feitos pela população. Trata-se de um evento tradicional único, e que já alcançou uma notoriedade elevada a nível nacional e internacional.
É uma celebração que, por tradição, só acontece quando o povo quer, pois a sua realização depende do voluntariado e da força de vontade dos campomaiorenses. A preparação é feita rua a rua, sendo que o trabalho desenvolvido em cada uma delas fica em segredo, mesmo para amigos e familiares dos moradores e só é dado a conhecer na noite da “enramação”.
O atual modelo de Festas realizou-se por 20 vezes. Em apenas 15 anos, entre 1989 e 2004, o número de visitantes das Festas do Povo duplicou. O sucesso de todas as edições deve-se à surpreendente diversidade da decoração das ruas, de beleza inigualável. A arte das flores de papel e as Festas do Povo de Campo Maior são um Património cultural único no Mundo.
As últimas Festas do Povo tiveram lugar em 2011 e trouxeram a Campo Maior cerca de 1 milhão de pessoas, vindas de todo o país, da vizinha Espanha, da comunidade emigrante e até mesmo de outros países europeus. Foram decoradas 104 ruas com flores de papel, o equivalente a uma distância de aproximadamente 20 km. No total, foram utilizadas perto de 30 toneladas de materiais e o trabalho voluntário de cerca de 7500 pessoas, números que demonstram a vitalidade e a importância que este evento tem para as gentes de Campo Maior.
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